Segundo pesquisa do governo, dos jovens entre 15 a 19 anos de nacionalidade estrangeira, aproximadamente 7,7% não frequentam escola ou nem trabalham. A porcentagem de estudantes que termina o colegial e acaba trabalhando em profissões não regulamentadas é 10 vezes maior para estrangeiros do que para japoneses.
Em matéria do Mainichi, um réu brasileiro de 22 anos comenta sua história em sala de visitas do Centro de Detenção de Tóquio. Ele veio ao Japão quando era um estudante do primeiro ano do ensino fundamental para morar com os pais. Como seus pais mudavam de cidade quase todos os anos por causa do trabalho, ele estudou japonês apenas no quinto ano do shogakko. “Quando tinha uma palavra que não conhecia, o estudo parava”, comenta.
Quando entrou no chugakko, passava a maior parte do tempo jogando. Depois de ter se formado, decidiu abandonar os estudos e não fez o teste para ingresso no colegial.
Aos 20 anos, começou a trabalhar em empreiteira com a esperança de melhorar a reputação dos brasileiros se esforçando no seu trabalho. Contudo, após alguns meses, de repente parou de receber o salário.
Com problemas financeiros, recebeu uma proposta de baito. O trabalho era sacar dinheiro de contas de outras pessoas em estações ATM. “É dinheiro de imposto, então é legal”, teria recebido esta explicação. Com medo de sofrer violência física, ele obedeceu as ordens.
Certo dia, o réu viu uma notícia na televisão sobre a prisão de um grupo de golpistas japoneses na Tailândia, e começou a acreditar que estava envolvido nesse crime. Alguns meses depois, a polícia o prendeu em casa. Ele foi condenado à prisão por ter roubado 3 milhões de ienes da conta de um idoso. Como a pena foi muito pesada, entrou com um apelo judicial.
“Deveria ter estudado mais. Agora quero recomeçar tudo, começando pelo colegial”, disse arrependido.
Outro caso de um jovem de 22 anos
Em dezembro de 2019, o Tribunal de Tóquio julgou um caso do jovem Jack, 22 anos, nacionalidade brasileira. Seu crime foi ter fraudado uma mulher na faixa dos 80 anos.
Jack chegou ao Japão quando era um estudante do primeiro ano do shogakko. Residente em Fukushima, ele sofreu bullying (ijime) durante sua vida escolar. Em 2011, se mudou para Saitama por causa do Grande Terremoto ao Leste do Japão. Devido aos problemas do cotidiano, abandonou o colegial, e começou a trabalhar em vários empregos não regulamentados.
No verão de 2019, foi ameaçado por um japonês, membro de um grupo de fraudadores, e virou mula de dinheiro. “Você assinou um contrato de trabalho. Se você recusar, vamos cobrar uma indenização de milhões”, disse o homem.
“Não tive escolha”, lamenta o jovem brasileiro. Ele foi preso em flagrante quando estava recebendo dinheiro da fraude e recebeu pena de cárcere em março deste ano.
No período que estava detido, pensou seriamente sobre o que poderia fazer, e decidiu se tornar um tradutor. “Falar japonês e português é uma das minhas únicas vantagens”, disse o jovem que agora quer ajudar outras pessoas com dificuldades em se comunicar em japonês.
Fonte: Mainichi