Não há dados para mostrar que o novo coronavírus está mudando de forma significativa, diz OMS (ilustrativa/PM)
Especialistas da Organização Mundial da Saúde – OMS e vários outros cientistas disseram na segunda-feira (1º) que não havia evidência para apoiar uma afirmação feita por um médico italiano de alto perfil de que o novo coronavírus, que causa a Covid-19, está perdendo potência.
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O professor Alberto Zangrillo, chefe de terapia intensiva no Hospital San Raffaele em Lombardia, região mais afetada pelo vírus na Itália, disse no domingo (31) à rede estatal de TV que o novo coronavírus “clinicamente não existe mais”.
Contudo, a epidemiologista da OMS, Maria Van Kerkhove e vários outros especialistas em vírus e doenças infecciosas, disseram que os comentários de Zangrillo não eram sustentados por evidência científica.
Não há dados para mostrar que o novo coronavírus está mudando de forma significativa, tanto em sua forma de transmissão como na gravidade da doença que ele causa, disseram.
“Em termos de transmissibilidade, que não mudou, em termos de gravidade, que não mudou”, disse Van Kerkhove aos repórteres.
Não é incomum que vírus sofram mutação e se adaptem enquanto se espalham. A pandemia, até agora, matou mais de 370 mil pessoas e infectou mais de 6 milhões.
A epidemiologista da OMS, Maria Van Kerkhove (Wikimedia/World Health Organization)
Martin Hibberd, professor de doenças infecciosas emergentes na Escola de Londres de Higiene e Medicina Tropical, disse que estudos importantes observando mudanças genéticas no vírus SARS-CoV-2 que causa a doença Covid-19 não sustentaram a ideia que ele estava ficando menos potente, ou enfraquecendo de alguma maneira.
“Com dados de mais de 35 mil genomas de vírus inteiros, atualmente, não há evidência de que há qualquer diferença significante relacionada à gravidade”, disse ele em um comentário por email.
Zangrillo, bem conhecido na Itália como médico pessoal do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, disse que seus comentários foram apoiados por um estudo conduzido por um colega cientista, Massimo Clementi, os quais Zangrillo disse que seriam publicados na próxima semana.
“Nunca dissemos que o vírus mudou, dissemos que a interação entre o vírus e o hospedeiro definitivamente mudou”, disse Zangrillo à Reuters.
Ele disse que isso poderia ser devido tanto a características do vírus, as quais ele disse que ainda não haviam identificado, ou diferentes características nos que foram infectados.
O estudo de Clementi, que é diretor do laboratório de microbiologia e virologia do San Raffaele, comparou amostras do vírus de pacientes com Covid-19 no hospital sediado em Milão em março com aquelas de pacientes com a doença em maio.
“O resultado foi claro: uma diferença extremamente significante entre a carga viral de pacientes que deram entrada em março comparado “àqueles no mês passado”, disse Zangrillo.
Oscar MacLean do Centro para Pesquisa de Vírus da Universidade Glasgow disse que sugestões as quais disseram que o vírus estava enfraquecendo não “tinham suporte de qualquer literatura científica e também parecem bastante implausíveis em termos genéticos”.
Especialistas e representantes da Universidade Johns Hopkins, do Centro Médico Wake Forest, da Universidade George Washington e da Northwell Health também disseram que não estavam cientes de evidência sugerindo que o vírus havia mudado.
“A sugestão feita pelo médico italiano é potencialmente perigosa, visto que ela dá uma falsa garantia baseada em não evidência”, disse Leana Wen, médica de emergência e professora de saúde pública na Universidade George Washington.
“Não há evidência científica para o coronavírus lá ter sofrido mudança. É uma doença transmissível e altamente contagiosa. Precisamos estar em alerta mais do que nunca”.
Fonte: Agência Reuters