Akio Saito é um verdadeiro expoente do Karatê Kyokushin, tornando-se o primeiro brasileiro a alcançar o 6º Dan no Japão. Nesta entrevista exclusiva ao Portal Mie, ele compartilha sua jornada, revelando os desafios enfrentados e as vitórias conquistadas. De treinos árduos a reflexões sobre o papel do karatê na sociedade, conheça a inspiradora trajetória de Saito, marcada por superação, resiliência e união.
Portal Mie: Como você descreveria sua jornada no mundo do Karatê Kyokushin, desde o início do treinamento até alcançar a faixa 6º dan?
Akio Saito: O karatê Kyokushin fez parte de minha vida e formação de meu caráter pessoal em todos os aspectos e até o 6º Dan foi um caminho maravilhoso e pretendo evoluir ainda mais.
Portal Mie: Quais foram os maiores desafios que você enfrentou ao longo de sua trajetória no Karatê, tanto no Brasil quanto no Japão?
Akio Saito: Os maiores desafios foram sempre conciliar trabalho junto com treino. Foi muito custoso e o tempo! Mas com muito esforço consegui unir e resumir em um todo.
Portal Mie: Como foi a preparação física e mental para o exame de faixa 6º dan? Você poderia compartilhar mais detalhes sobre esse processo?
Akio Saito: Reuni todas as forças que tive por 4 meses e meio, fiz corridas, muito treino aeróbico, bastante rounds em saco de pancada. Foram praticamente sem folga nenhuma, até nos domingos. Mesmo depois de um dia exaustivo de trabalho, nos dias que estava muito cansado, treinava pelo menos uns 40 minutos básicos para não perder o ritmo.
Portal Mie: Qual foi a sensação de ser o primeiro brasileiro a conquistar a faixa 6º dan no quartel general do Karatê Kyokushin Oyama?
Akio Saito: Senti-me muito feliz e orgulhoso, não só por ser o primeiro brasileiro, mas como um dekasegi no Japão conseguir um título que até muitos japoneses não têm tão alto assim. Me faz pensar que nossa comunidade brasileira aqui no Japão tem muita qualidade para mostrar aos japoneses que somos capazes de fazer coisas muito boas para a sociedade japonesa e viemos de tão longe para somar.
Portal Mie: Além do aspecto competitivo, como o Karatê Kyokushin influenciou outras áreas de sua vida, como suas relações pessoais e profissionais?
Akio Saito: O karatê Kyokushin me influenciou em minha vida toda. Hoje tudo que faço tem um pouco de Kyokushin em tudo: persistir, aguentar qualquer obstáculo, o legítimo gaman da cultura japonesa transparece em mim pela disciplina que aprendi do karatê Kyokushin.
Portal Mie: Você mencionou que o Karatê teve um impacto positivo em sua vida, especialmente em relação à resolução de conflitos entre adolescentes e jovens. Como você vê o papel do Karatê nesse contexto e como ele pode ajudar a orientar esses grupos na superação de desafios e na construção de relacionamentos saudáveis?
Akio Saito: O karatê me ensinou muito, principalmente quando tive um trabalho voluntário em uma grande comunidade do estado do Paraná, na cidade de Paranaguá, onde conseguimos resgatar e mostrar aos jovens de periferias que o ensinamento do karatê traz um futuro promissor. E muitos, graças a Deus, que passaram por este projeto, hoje são adultos muito bem formados, viraram mães, pais e bastante com um ótimo nível de carreira profissional exemplar e que muitos até hoje declaram que o karatê foi o alicerce na vida deles e carregam aspectos dele até hoje em suas vidas.
Portal Mie: Como foi a transição de ser um praticante para se tornar um professor de Karatê? Quais são os aspectos mais gratificantes e desafiadores desse papel?
Akio Saito: Todo mundo tem um começo e comigo não foi diferente e com o passar do tempo percebi que a força que eu buscava no karatê ia além de ser lutador, um competidor, e que para mim a legítima força estava em poder ensinar, compartilhar o que aprendia com outros. Acredito que isso foi o principal motivo que me incentivou buscar ser o professor da arte, ajudar pessoas fracas a se tornarem fortes, isso gratifica e o compartilhamento com quem precisa.
Portal Mie: Você participou de projetos sociais no Brasil relacionados ao Karatê. Poderia compartilhar algumas experiências marcantes desses projetos?
Akio Saito: O que mais me marcou foram diversos episódios, acredito que a semente do karatê na época mostrou para eles que existe um futuro melhor, basta acreditar em si mesmo. E que muitos, como mencionei mais acima, hoje têm bons destaques na vida pessoal deles, até pela influência que o karatê fez na vida deles.
Portal Mie: Qual é sua visão sobre o estado atual do Karatê Kyokushin, especialmente com todas as ramificações que surgiram após a morte do fundador?
Akio Saito: Hoje em dia surgiram inúmeras ramificações, acredito que todas têm o mesmo objetivo: alcançar o mesmo pico da montanha, mas por caminhos distintos. Talvez não seja mais tanto a era Kyokushin nos dias de hoje e sim a nova era do Karatê de contato com suas raízes no Kyokushin legítimo. Teremos que aguardar um pouco mais para saber qual será o verdadeiro rumo que virá se tornar, mas uma coisa é certa: Kyokushin sempre será Kyokushin em qualquer parte do mundo onde se pratica.
Portal Mie: Quais são seus planos e objetivos futuros no mundo do Karatê? Existe algo que você ainda deseja alcançar ou contribuir para a comunidade do Karatê?
Akio Saito: Meus planos de conquista neste atual momento é poder compartilhar tudo isso que venho vivendo com o karatê com crianças, jovens filhos de nossa comunidade que vivem aqui no Japão. Conseguir apoio de um grande local, seja de igreja, empreiteira, espaço, para que os pais saibam que podem colocar os filhos para aprender a autodisciplina do karatê Kyokushin, até mesmo como parte integrante da cultura japonesa e um meio de autodefesa. Junto com a formação do caráter de um cidadão de bem e responsável com seus atos.
Agradecimentos:
Agradeço imensamente a oportunidade deste grande veículo de comunicação virtual de nossa comunidade no Japão, o portal Mie, por compartilhar esta trajetória que não é só minha, mas de todos nós que vivemos aqui no Japão. Muito obrigado. Osu.
Contato com Akio Saito
Facebook: Kyokushin Dojo Tamashi
Reportagem
Clayton Moraes – Fotógrafo & Colunista
Fotos – cedidas