No Brasil, existem mais de 10 modelos de parentalidade, ou seja, modelos de criação dos filhos. Dentre todos os modelos, os 3 principais são: o modelo AUTORITÁRIO, o modelo NEGLIGENTE e o modelo PERMISSIVO.
Modelo autoritário
Esse modelo parental engloba atitudes controladoras com o objetivo de adquirir obediência dos filhos, sem se preocupar com o respeito. Não importa a opinião ou vontade dos filhos, as regras são indiscutíveis e não há abertura para acordos. Nesse modelo, a criança não é estimulada a pensar ou argumentar, e poderá ser acometida pela escassez verbal, que é um fenômeno que se manifesta quando a comunicação entre o educador e educando é limitada e controlada ou quando a livre expressão é desencorajada. Neste contexto, o diálogo é substituído por ordens unilaterais e os pensamentos críticos são vistos sempre como desrespeitosos ou impertinentes.
O que o modelo autoritário pode causar na criança
Esse modelo autoritário pode causar revolta, apatia, obediência fingida, dificuldade para expressar o que sente pelo medo constante de repressão ou por inabilidade. Há maior risco dessas crianças se tornarem submissas diante de relacionamentos abusivos, pois podem aprender que amor e maus tratos andam juntos: “quem me ama e trata mal por amor”.
O modelo autoritário convida a criança a pensar que tudo pode ser resolvido pela força e que no lugar da negociação existe a imposição e a prepotência. Dificilmente essas crianças serão capazes de desenvolver a habilidade da comunicação; evitam colaborar, a menos que haja recompensas externas.
Modelo negligente
Este é um estilo de educação onde os pais demonstram uma falta significativa de envolvimento emocional, supervisão e apoio às necessidades dos filhos. Há ausência de atenção, carinho e orientação, resultando em um ambiente onde as crianças muitas vezes se sentem desamparadas e invisíveis. É aquela ausência mesmo quando estão presentes. As necessidades biológicas dos filhos são atendidas, mas as emocionais e afetivas não. Por exemplo, são pais que não se importam com o tempo de qualidade, ficam no celular ao invés de conversarem ou brincarem com os filhos ou os deixam nas telas o dia todo para que não incomodem. Não perguntam sobre o seu dia, não conhecem seus interesses ou amigos. Geralmente se importam apenas com as necessidades de sobrevivência: “nunca deixei faltar nada, sempre paguei escola, comida e roupas”.
Mas, atenção! Muitos pais trabalham no Japão e deixam seus filhos sob os cuidados de familiares no Brasil. Isso não quer dizer que os pais estão no modelo negligente. A partir do momento que os filhos têm atenção biológica e afetiva de alguém da família, não importa se é pai ou mãe necessariamente, pois um tio ou avô, assim como a tia ou avó poderão sim fazer o papel de figuras paternas e maternas. Neste caso não se trata de negligência.
Para ser caracterizado como educação negligente, deverá existir a omissão dos pais/cuidadores.
O que o modelo negligente pode causar na criança
Pode causar a sensação de que a criança não é importante e mais além, que não é digna do amor dos pais. A falta de atenção e cuidado pode levar a sentimentos de insegurança, baixa autoestima e dificuldades em formar relações saudáveis com os outros. Sem o apoio e a orientação necessários, estas crianças podem desenvolver comportamentos problemáticos, como agressividade ou retraimento social, e apresentar dificuldades acadêmicas devido à falta de incentivo e acompanhamento dos pais.
Modelo permissivo
Neste modelo os pais tendem à super proteger e mimar seus filhos pela crença que só conseguirão demonstrar amor cedendo às vontades dos filhos. São pais que orbitam em volta da criança com medo de traumatizar com um não. Geralmente este modelo é uma resposta ao modelo autoritário: “darei ao meu filho tudo que não tive”; ou é um caminho para sanar a culpa pela ausência. Por medo, dó ou falta de tempo, os pais fazem pela criança inibindo o desenvolvimento de certas habilidades. Aqui os pais cuidam, mas “perdem a mão”.
O que o modelo permissivo pode causar na criança
Vejam como o modelo permissivo pode ser tão prejudicial quanto o autoritário e negligente. Esse modelo pode impedir da criança lidar com as frustrações já que sempre ouviu sim; com isso poderá não desenvolver a habilidade de resiliência; quando adultos não lidarão bem com limites e esperarão um tipo de tratamento especial dos outros.
A solução sempre será o equilíbrio baseado na educação respeitosa que é saber conduzir a criança respeitando as suas manifestações emocionais e, ainda assim, mantendo o limite necessário. Não o limite-muro (que separa e rompe), mas o limite-margem (enquanto borda e direcionamento). A educação respeitosa pode ser colocada como o equilíbrio no convívio com as crianças e adolescentes porque ela exige respeito mútuo, construção de vínculo, equilíbrio emocional, educação sem punição e quebra com padrões antigos de educação. Não significa que você não pode se estressar, que não pode chamar atenção ou se doar até a exaustão.
O seu desafio enquanto pai ou mãe é tentar entender o que está por trás de um mau comportamento, desobediência, mentira ou discordâncias naturais do dia-a-dia, pois tudo isso é uma forma de comunicar algo ou um grito de socorro.
“A meta é que a criança se sinta acolhida até que compreenda, e não que sinta medo até que obedeça”. – Lelia Schott
Algumas alternativas que substituem/evitam punições
- Ofereça escolhas limitadas
Ao invés de ordenar que o banho seja às 19h, diga: “você prefere tomar banho às 13h ao chegar da escola ou mais tarde às 19h antes do jantar?”. Ao responder e escolher, a criança se compromete e valoriza o poder de decisão.
- Dê espaço para que as crianças aprendam com os seus erros e evite dizer “eu avise” ou grandes sermões.
- Dedique um tempo para treinamento de habilidades diárias de vida e acompanhe. Exemplo: ensinar a criança a economizar dinheiro no cofrinho, ensinar varrer a casa, lavar frutas, preparar uma salada, um bolo, ir ao mercado com lista definida e etc. Vai depender da idade do seu filho. Isso gera conexão e eles sempre aprenderão algo novo para desenvolver autonomia.
- Realize reuniões em família para organizarem tarefas, avisos ou simplesmente para curtirem um filme ou churrasco.
- Construa regras com a participação dos filhos. Eles têm uma maior tendência a respeitarem regras quando ajudaram a construí-las.
- Quando você explodir, reconheça que passou dos limites e peça desculpas. Assim você ensina que pedir desculpas não tem a ver com hierarquia familiar, mas sim com respeito e reconhecimento.
- Escute mais e observe mais os filhos. Muitos comportamentos são maneiras de tentar comunicar algo.
- Foque em soluções e não só nas punições.
Sugestão de leitura: Como falar para seu filho ouvir e como ouvir para seu filho falar. Autoras: Adele Faber e Elaine Mazlish. Editora Summus
Psicóloga Flavia Shiroma de Paula
Se você deseja iniciar um processo de psicoterapia, não hesite em entrar em contato. Cuide sempre as sua saúde mental.
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