De Maringá (PR) para o mundo, Farencena Junior, mais conhecido como Sal Batera, é um daqueles músicos que respiram ritmo, paixão e história.
Autodidata e movido pelo amor à música herdado do pai, ele começou a tocar ainda menino e logo se destacou nas bandas baile do Paraná, até conquistar os palcos da comunidade brasileira no Japão.
Com uma trajetória marcada por prêmios, passagens por grandes festivais e colaborações com artistas consagrados como Tony Garrido, Saulo Fernandes, Dblack e Arlindinho, Sal construiu uma carreira sólida e inspiradora.
Fundador da lendária Banda Dahu, ele se tornou um dos nomes mais respeitados da música brasileira em solo japonês e, em 2014, foi reconhecido com o International Press Awards Japan, como melhor músico da comunidade brasileira.

Nesta entrevista exclusiva, Sal Batera fala sobre suas origens, desafios, conquistas e a força que a música tem para unir culturas e transformar vidas. “A bateria me ensinou que o ritmo da vida não é o que a gente escuta, é o que a gente sente. E foi esse sentimento que me trouxe até aqui.” Sal Batera
Portal Mie: Sal Batera, seu interesse pela música começou ainda criança, influenciado pelo seu pai. Como era essa convivência musical em casa e o que mais te marcou nessa época?
Sal Batera: Ah, essa parte da minha história é muito especial. Lá em casa, a música sempre fez parte do dia a dia. Meu pai era apaixonado por música, vivia cantando, e eu cresci nesse ambiente. Lembro que os domingos sempre tinham som rolando, e aquilo me encantava, eu ficava batucando em tudo o que via. Acho que foi ali que nasceu o meu amor pela bateria.
Tenho uma lembrança bem forte da minha época de escola: eu não via a hora de acabar as aulas para poder voltar pra casa e praticar o que meu pai tinha me ensinado. Ele foi o meu grande professor. O que mais me marcou foi ver a alegria que a música trazia pras pessoas ao redor. Eu pensava: “Quero fazer isso também.”

Portal Mie: Aos 12 anos, você já tocava em bares e casas noturnas. Como era ser um adolescente vivendo o ambiente profissional da música tão cedo?
Sal Batera: Foi uma fase bem diferente (risos). Eu era um moleque no meio de adultos, mas sempre com muita responsabilidade.
Aprendi cedo a respeitar o palco, os horários e a convivência com os músicos mais experientes. Enquanto os amigos estavam brincando, eu estava carregando bateria e tocando à noite. Foi um aprendizado enorme, me amadureceu muito rápido.
Portal Mie: Você fez parte da Fanfarra Municipal de São Jorge do Ivaí e conquistou muitos prêmios. O que essa fase representou na sua formação como músico e pessoa?
Sal Batera: A fanfarra foi uma escola pra mim. Lá eu aprendi disciplina, trabalho em equipe e a importância de cada detalhe na música. Ganhar prêmios foi incrível, mas o mais importante foi entender que esforço e dedicação trazem resultado. Essa fase moldou meu caráter e meu compromisso com o que faço até hoje.
Portal Mie: Em 1995, você decidiu encarar o desafio de viver no Japão. O que te motivou a fazer essa mudança e como foi o início da sua jornada por aqui?Sal Batera:Foi um salto no escuro, mas movido por coragem e sonho. Eu queria novas oportunidades, crescer profissionalmente, conhecer outra cultura.
No começo foi difícil, nova língua, novo país, saudade de casa, mas a música sempre foi meu refúgio e minha ponte pra me conectar com as pessoas. Ela literalmente me abriu as portas aqui no Japão.

Portal Mie: Logo você se destacou no cenário musical da comunidade brasileira no Japão. Quais foram os maiores desafios e também as maiores conquistas desse começo?
Sal Batera: O maior desafio foi conquistar espaço num cenário totalmente novo, com poucos recursos e muita concorrência. Mas, ao mesmo tempo, foi um período de muitas conquistas. Conheci pessoas incríveis, toquei em lugares que eu nem imaginava e fui vendo o público reconhecer o trabalho. Esses primeiros anos foram de luta, mas também de muita alegria e aprendizado.
Portal Mie: A Banda Dahu, fundada por você em 2001, se tornou uma das referências da música brasileira no Japão. Como nasceu essa banda e qual foi o segredo para ela se manter relevante por tanto tempo?
Sal Batera: A Dahu nasceu do desejo de ter uma banda que fizesse o mesmo formato que eu fazia no Brasil, que era tocar vários estilos musicais aqui no Japão. Em 2001, juntei amigos que tinham a mesma paixão, mas faltava o mais importante: o vocal. Até que apareceu o meu amigo Massao, ele fazia um trabalho de voz e teclado nas casas noturnas, fiz o convite para integrar a banda, e ele topou na hora.
O segredo pra longevidade da banda? Respeito, amizade e profissionalismo. A gente sempre buscou evoluir e manter a essência: fazer o público se sentir em casa, mesmo longe do Brasil.

Portal Mie: Você já tocou em grandes eventos como o Brazilian Day Tokyo, Unesco World Festival Seoul e até bases americanas. Tem algum momento ou palco que ficou marcado na memória?
Sal Batera: Ah, tem vários… Mas o Brazilian Day Tokyo foi um divisor de águas. Ver aquela multidão cantando junto foi emocionante. O Unesco World Festival, em Seul, também foi inesquecível representar o Brasil fora do país foi um orgulho enorme. E tocar nas bases americanas é sempre especial, porque é um público diverso e cheio de energia.
Fizemos um show recentemente em uma base em Nagasaki, fomos a primeira banda brasileira a fazer um show totalmente voltado para os americanos. Quando estava tocando, o que eu mais pensava era onde a música conseguiu nos levar. Cada palco deixa uma história diferente.
Portal Mie: Em 2014 veio o reconhecimento com o prêmio International Press Awards Japan. O que esse prêmio significou pra você depois de tantos anos de dedicação à música?
Sal Batera: Foi um momento de gratidão profunda. Receber esse reconhecimento depois de tantos anos de dedicação me fez olhar pra trás e pensar: valeu a pena. Mas também me lembrou que o prêmio maior é poder viver da música e tocar o coração das pessoas. Esse é o verdadeiro troféu.

Portal Mie: Você também já trabalhou com artistas renomados do Brasil como Tony Garrido, Saulo Fernandes e Arlindinho. O que mais aprendeu nessas parcerias?
Sal Batera: Trabalhar com nomes como Tony Garrido, Saulo Fernandes e Arlindinho foi uma escola. Não posso deixar de mencionar outros artistas que pude acompanhar, como Marcinho Eiras, Dom Paulinho Lima, Luka, Vinícius Dblack, Supla, Dz6 e Éder Miguel.
Aprendi muito observando o profissionalismo, a humildade e o amor deles pela música. Cada parceria me ensinou algo diferente desde o cuidado com os detalhes até a importância de se conectar de verdade com o público.

Portal Mie: Depois de tantos anos de estrada, entre o Brasil e o Japão, o que a música representa hoje na sua vida, e quais são seus próximos projetos ou sonhos?
Sal Batera: Hoje, a música é parte de mim, é o que me move, me equilibra e me dá propósito. Depois de tantos anos, ela continua sendo o canal que me faz chegar às pessoas, independentemente de idioma ou cultura. Paralelo ao trabalho com a Dahu, tenho um projeto de samba e pagode (Pagode de Elite) junto com meus amigos Diego e Marjorie, um trabalho que está tendo uma boa aceitação nas casas noturnas.
Também faço parte da banda do cantor Jhon Santos. Meus próximos projetos envolvem continuar levando a música pra novos lugares, formar novos músicos e seguir escrevendo essa história com gratidão e verdade.

Agradecimentos
Quero deixar aqui o meu agradecimento sincero a todos que fizeram e fazem parte dessa caminhada. Agradeço a Deus, por me dar o dom da música e a força pra continuar sonhando. À minha esposa e à minha família, por sempre acreditarem em mim, mesmo nos momentos mais difíceis.
Agradeço também a todos os músicos com quem já toquei, cada um deixou um pedacinho de si na minha história. Foram muitas risadas, viagens, aprendizados e amizades que levo pra vida. Um carinho especial pra galera da Banda Dahu (Diego, Riki e Leilane) que têm sido meu porto seguro e minha segunda família nesses anos todos.
Aos amigos, produtores, contratantes e parceiros, muito obrigado pela confiança e por acreditarem no nosso trabalho. E, claro, ao público, que é a razão de tudo isso acontecer, cada aplauso, cada mensagem, cada presença no show é o combustível que faz tudo valer a pena. De coração, muito obrigado a todos. A música me trouxe até aqui, mas são as pessoas que me mantêm nesse caminho. – Sal Batera.
Contatos
Facebook: Sal Batera
Instagram: Sal Batera
Reportagem
Clayton Moraes – Fotógrafo & Colunista
Fotos – cedidas





