Um batedor de chá na terra, ao lado da casa de chá de Akiko e Toshinobu Nishihara, no distrito de Mabicho, na cidade de Kurashiki (Okayama), em 25 de julho de 2018 (Mainichi)
Águas turvas começaram a invadir a casa pouco a pouco enquanto uma mulher no distrito de Mabicho, na cidade de Kurashiki (Okayama) ajudava seu marido quase cego e com fraqueza nas pernas a ficar de pé sobre a mesa da cozinha, envolvendo seus braços em torno de seu corpo para protegê-lo.
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Por volta de meio-dia de 7 de julho, as águas da inundação começaram a invadir o distrito de Mabicho. O rio próximo, o Oda, e seus afluentes haviam rompido diques e águas turvas engoliram cerca de 4.600 casas uma após a outra. O nível das águas chegava até a altura dos segundos andares das residências.
As águas já haviam alcançado o nível do peito na casa de Akiko Nishihara, de 84 anos, no distrito de Mabicho, por volta das 13h18. Guiando seu marido Toshinobu, de 86, Nishihara telefonou para seu segundo filho, Norio, que mora a cerca de 25Km de distância, na cidade de Tamano, também na província de Okayama. A mãe disse a ele que não conseguia entrar em contato com a prefeitura e que o nível da água continuava subindo e não havia lugar algum para o casal escapar na casa térrea onde viviam.
O irmão mais velho de Norio, Hidenobu, de 58, que mora ainda mais longe de seus pais, ouviu sua mãe gritando quando ele finalmente conseguiu falar com ela por volta das 15h04. “Estou de pé sobre a mesa da cozinha com seu pai. A água está subindo, por favor, nos ajude”, pediu Nishihara a seu filho.
Os dois filhos imploraram desesperadamente aos bombeiros e a polícia que resgatassem seus pais, mas já era tarde demais.
Nishihara morreu ainda segurando seu marido nos braços
Os corpos do casal foram encontrados na noite de 8 de julho. O neto deles, de 25 anos, Masaki, que foi até o local a bordo de um barco de resgate das Forças de Autodefesa, confirmou as identidades.
Nishihara morreu ainda segurando seu marido firmemente nos braços. Havia evidência de que a água invadiu a casa até o teto, e os ponteiros do relógio pendurado na parede estavam parados no horário das 15h20. Isso foi um pouco depois de Nishihara ter pedido ajuda ao seu filho mais velho pelo telefone.
A mulher havia mantido seu marido em cima da mesa da cozinha para chegar a uma posição um pouco mais alta, e tinha lutado para mantê-lo respirando no pequeno espaço entre as águas e o teto, até o fim..
“Deve ter sido tão sofrido”, disse Masaki, incapaz de segurar suas lágrimas quando ele viu os corpos de seus avós.
Esposa dedicada
O marido de Nishihara era aposentado de uma empresa de aço e ela sempre estava ao seu lado como uma esposa dedicada.
Após criarem seus dois filhos, o casal se mudou de uma outra área de Kurashiki para uma casa térrea no distrito de Mabicho, onde Nishihara podia desfrutar de seu hobby de conduzir a tradicional cerimônia do chá japonesa.
Ela até abriu uma classe para ensinar a arte aos vizinhos, e seu marido construiu uma casa de chá de seus sonhos no jardim. O casal nunca descuidou dessa área conchegante da residência e desfrutavam do tempo que eles passavam juntos tomando chá enquanto admiravam o brilho das folhas vermelhas no outono.
Suas idades avançadas eram preenchidas com sorrisos. Mesmo quando os músculos das pernas de Toshinobu se deterioram rapidamente após ele ter sido hospitalizado há dois anos para se submeter a uma cirurgia para câncer do esôfago, Nishihara continuou do seu lado. Em decorrência de uma doença nas retinas, ele perdeu sua visão quase que completamente.
Nishihara se recusou a sair de casa
Agora, trabalhando na limpeza da casa de seus pais, Hidenobu ouviu de seus vizinhos o que aconteceu com eles. Eles haviam sugerido evacuar o casal na manhã antes das águas virem.
Nishihara, aparentemente, se recusou, dizendo a eles “Meu marido não pode ver. Ele se sente mais seguro em nossa casa que ele conhece bem, e não podemos ir a um centro de evacuação inconveniente”.
Agora, as paredes de barro da casa de chá desabaram, e somente plantas cobertas de lama restam no jardim. Pensando em todas as memórias de seus pais que o jardim manteve, a voz de Hidenobu se prende na garganta.
“O quão terrível deve ter sido as águas invasoras”. Mesmo assim, acho que ela não suportaria sair do lado do meu velho homem”.
Fonte: Mainichi
Imagem: Mainichi, News TBS