Médicos brasileiros estão divulgando sobre o primeiro bebê do mundo nascido de uma mulher com útero transplantado de uma doadora falecida.
Onze nascimentos anteriores usaram úteros transplantados de doadoras vivas, geralmente parentes ou amigas.
Especialistas disseram que usar o útero de uma doadora morta poderia tornar os transplantes mais possíveis. Dez tentativas anteriores usando úteros de doadoras falecidas na República Checa, Turquia e EUA não tiveram sucesso.
A menina veio ao mundo em dezembro de 2017. A mulher, uma psicóloga de 32 anos que nasceu sem o útero por causa de uma síndrome rara, inicialmente estava apreensiva com o transplante, disse o Dr. Dani Ejzenberg, médico que liderou a equipe da Faculdade de Medicina da USP- Universidade de São Paulo.
“Essa foi a coisa mais importante da vida dela”, disse ele. “Agora ela vem para nos mostrar o bebê e ela está muito feliz”.
A mulher engravidou através de fertilização in vitro sete meses após o transplante. A doadora era uma mulher de 45 anos que tinha três filhos e morreu em decorrência de um derrame.
A receptora, que não foi identificada, deu à luz por cesariana. Os médicos também removeram o útero, em parte para que a mulher não tenha mais que tomar medicamentos anti-rejeição. Cerca de um ano depois, mãe e bebê estão saudáveis.
Outros dois transplantes estão planejados como parte do estudo brasileiro. Detalhes do primeiro caso foram publicados na terça-feira (4) no jornal de medicina Lancet.
O transplante de útero foi iniciado pelo médico suíço Mats Brannstrom, que fez o parto de oito crianças de mulheres que receberam úteros transplantados de membros da família ou amigas. Dois bebês nasceram no Centro Médico da Universidade de Baylor no Texas e um na Sérvia, também de transplantes de doadoras vivas.
Em 2016, médicos na Clínica Cleveland transplantaram um útero de uma doadora falecida, mas não tiveram sucesso após o desenvolvimento de uma infecção.
“O grupo brasileiro provou que usar o útero de doadoras falecidas é uma opção viável”, disse Tommaso Falcone da clínica, que estava envolvido no caso de Ohio. “Isso pode nos dar um fornecimento maior de órgãos do que achávamos que era possível”.
O programa de Cleveland continua usando úteros de doadoras mortas. Falcone disse que o fato do sucesso do transplante após o útero ter sido preservado no gelo por cerca de oito horas demonstrou o quão resistente é o órgão.
Outros especialistas disseram que o conhecimento adquirido a partir de tais procedimentos podem também ajudar a solucionar alguns mistérios persistentes sobre gestações.
“Ainda há muitas coisas que não sabemos sobre gestações, como de que maneira os embriões se implantam”, disse o Dr. Cesar Diaz, co-autor de um comentário anexo no jornal. “Esses transplantes nos ajudarão a compreender a implantação e cada estágio da gravidez”.
Fonte: AP via Japan Today