Abril é o mês dos jovens começarem uma nova vida, o começo da carreira. Para Tran Nguyen Kim Dao, vietnamita, 27 anos, de Kobe (Hyogo), não é diferente. Iniciou o mês no hospital dando o primeiro passo para a realização do sonho de ser enfermeira no Japão.
Relembra o passado, há uma década, quando chegou ao Japão com 17 anos, com o ensino médio já concluído no seu país. Nada sabia de japonês e pensava “não preciso aprender o idioma para trabalhar na fábrica de calçados”.
Seus pais já moravam em Kobe, quando ela e seu irmão mais novo chegaram.
Depois de conhecer a professora chamada de “mãe” pelos estrangeiros, na escola ginasial do seu irmão, foi mudando de ideia.
A mestra que mudou a vida dela
O encontro com a professora Keiko Kusa mudou a sua maneira de pensar. Passou a não querer ser vista como mais uma estrangeira ou se justificar “porque sou estrangeira” nas situações diversas.
Durante a sua exaustiva jornada de trabalho passou mal e foi ao hospital. Sem saber falar o idioma e sem compreender o sistema japonês Dao relembra que sentiu medo quando estava na sala de espera. “Se me tornar enfermeira vou poder ajudar meus familiares e outros estrangeiros”, pensou. E isso se tornou um decreto na vida dela.
Quando a professora Keiko soube disso, passou a se empenhar para ajudá-la a aprender o idioma. Ela teria dito “para trabalhar como enfermeira precisa estar afiada no japonês, conhecer as regras da sociedade, juntar dinheiro para estudar”.
Assim, sob sua orientação Dao se matriculou no colegial, retornando aos bancos escolares. Trabalhava de dia e ia à escola de noite.
Sonho de se tornar enfermeira
Enquanto prosseguia seus estudos e trabalhava para economizar o que mais ouviu foi “até para os japoneses é difícil passar no exame”, pelos professores da escola; “pra que se esforçar tanto”, pelos familiares ou “imagine que vai conseguir”, pelos amigos.
Sem dar ouvidos para esses comentários prosseguiu estudando. A sua professora de japonês se empenhou em encontrar uma faculdade onde pudesse fazer o curso. Formou-se no colegial e foi para a faculdade de Enfermagem, se superando todos os dias.
Depois de formada, na primeira tentativa de exame nacional não conseguiu passar. Mas não desistiu.
Queria ter cuidado da mestra como enfermeira
Recebeu a notícia de que professora Keiko com quem estabeleceu um laço muito forte estava com câncer, faltando 2 meses para o seu segundo exame, no ano passado. Foi ela que ensinou todos os termos técnicos difíceis e o vocabulário em japonês. Mesmo enferma, continuaram trocando e-mails.
No hospital a professora Keiko lhe disse sorrindo “Dao, você consegue. Vá em frente que eu também vou me esforçar”. Três semanas depois, a pessoa que mais a apoiou se foi para sempre.
Em março deste ano Dao recebe a notícia de que foi aprovada no exame nacional. Foi até o oratório unir as mãos e agradecer à sua mestra. Queria ter cuidado dela como enfermeira, queria mostrar que conseguiu.
Em oração comunicou à mestra e amiga que inicia o trabalho como enfermeira. “Devo tudo à professora, dou graças a ela por ter me ensinado tudo e pelo seu apoio”, contou.
“Quero ser uma enfermeira que ajuda tanto os japoneses quanto os estrangeiros. Desejo que os estrangeiros saibam que podem ser enfermeiros”, finalizou.
Fonte: Daily