O Consulado-Geral do Brasil em Nagoia realizou sua primeira Olimpíada de Português e participaram da competição 298 estudantes de 8 escolas brasileiras de nossa jurisdição: EAS Toyohashi; EAS Hekinan; EAS Toyota; Escola Nikken; Colégio Latino; Colégio Isaac Newton; Escola São Paulo Internacional, e Colégio Sant’Ana.
Os participantes foram divididos em duas categorias: Categoria A – 9º ano do ensino fundamental e 1º ano do ensino médio, e Categoria B – 2º e 3º ano do ensino médio.
A primeira etapa consistiu em prova objetiva de múltipla escolha, na qual foram aprovados 143 candidatos. A segunda etapa consistiu em prova de redação: os estudantes deveriam selecionar um dos três temas sugeridos para redigir um conto (Categoria A) ou uma dissertação (Categoria B).
Os resultados foram divulgados este mês, e a cerimônia de premiação foi realizada durante a II Feira de Educação do Consulado-Geral do Brasil em Nagoia, que ocorreu em 8 de dezembro, no Nagoyashi Koukaidou (Parque Tsurumai).
As redações dos vencedores:
Categoria A – 9º ano do ensino fundamental e 1º ano do ensino médio
Gênero textual: Conto
1º lugar
Autora: Mirella Cursino Giannini
Escola: Colégio Isaac Newton
Tema: O poder transformador da leitura
Na companhia deles
Lembro-me daquele dia como se fosse hoje. Era uma quarta-feira chuvosa, e eu estava sentada no sofá de casa, quando comecei a escutar uns barulhos estranhos nas prateleiras, onde ficavam guardados todos os livros de minha mãe.
Levantei-me e fui investigar o que estava causando todo aquele barulho. Para minha surpresa, o livro favorito de minha mãe caiu no chão. Quando me abaixei para pegá-lo, comecei a ouvir umas vozes que pareciam vir daquele mesmo livro.
Sim, ele começou a falar comigo, e eu não estava ficando louca! Conversamos aquela tarde toda, e ele me ensinou diversas coisas e me contou um monte de histórias divertidas. Rimos muito o dia inteiro e, por incrível que pareça, criamos uma amizade.
A partir daquele dia, toda vez que eu chegava da escola, corria até a prateleira para conversar com ele e, a cada tarde que passávamos juntos, ele me apresentava um novo amigo.
Porém, eu nunca imaginaria que aquele dia seria apenas o começo de uma amizade com os livros e que o hábito de lê-los traria uma grande transformação em minha vida.
2º lugar
Autor: Guilherme Tchoei Ashitomi
Escola: Escola Alegria de Saber – Toyohashi
Tema: O que esperar do futuro
O preço da paz
A garota rastejava pelos escombros do prédio. Seu rosto sujo e cortado evidenciava que ela era uma das várias vítimas daquela guerra. Mais uma pessoa que era vítima daquela terrível terra que há tanto deixara de ser um lar seguro.
Não sabia onde se encontrava, sua visão estava embaçada pelas lágrimas que aos poucos se formavam nos olhos. Estranhamente, tudo se encontrava em um silêncio ensurdecedor. Depois dos tiros e bombas, tudo se calou.
“Por que tanta violência?”, perguntava para ninguém em especial. Suas mãos, tingidas de vermelho, marcavam os pedaços do que um dia fora a parede de sua casa. “Está ficando gelado”, pensou, na medida em que encostava-se em uma viga de pedra para finalmente descansar.
“Pai, mãe”, respirou fundo antes de retomar, “me desculpem por não ter sido forte, desta vez eu não escapei, como vocês”. Uma outra bomba caiu antes que seus olhos pudessem se fechar, mas por algum motivo, para a garota, foi um fim silencioso.
Após cinco dias, o presidente dos Estados Unidos deu uma declaração oficial para a imprensa: “Tivemos sucesso em uma batalha por territórios até então ocupados por extremistas islâmicos. Com o devido investimento no exército, teremos a capacidade de salvar milhares de vidas. Senhoras e senhores, isso é o futuro”.
3º lugar
Autora: Iris Iwasse Maeda
Escola: Escola Alegria de Saber – Hekinan
Tema: Coração nipo-brasileiro
Frutos do passado
Aiko se lembrava, desde sua infância, de ter odiado seus olhos muito pequenos e seu cabelo liso demais. Esse sentimento persistiu por muito tempo, anos que passara admirando cabelos encaracolados e cílios longos, sempre desejando ter aquilo que não possuía.
O tempo passou e em uma certa tarde, imersa em uma conversa com sua avó, esta contou à neta sobre sua infância, do outro lado do mundo. Mencionou o nome de amigas que não via há décadas, de parentes que sempre traziam presentes ao visitarem, e recordou a maneira abrupta de como tudo isso mudou com uma decisão de seu pai, que acreditava em prosperidade em outro país.
O sol se abaixava no horizonte e o conto de sua avó continuava. Ela falou sobre os inúmeros desafios, as longas noites no barco e o medo do futuro incerto, longe de todos aqueles que conhecia, em um país no qual a língua mais falada não era a mesma que ela estava tão acostumada.
Para sua avó, aquilo era apenas uma recordação do passado, mas para Aiko, era um eterno lembrete de que as características que carregava eram frutos das dificuldades que aquela menina passara, tantos anos atrás.
Categoria B – 2º e 3º ano do ensino médio
Gênero textual: Dissertação
1º lugar
Autor: Henrique Candido Hirossi
Escola: Colégio Latino
Tema: O poder transformador da leitura
Além do que os olhos podem ver
Cada vez mais é perceptível a falta de interesse das pessoas pelos livros, seja por preguiça ou sobrecarga de tarefas. Entretanto, ao ler um artigo ou best-seller de qualquer gênero, é possível ao leitor mudar sua perspectiva sobre o que é racional, lúdico e motivador. A leitura possui esse poder de transformar desde o ignorante em sábio até o abatido em motivado.
Isso se deve primeiramente ao fato de a leitura acrescentar conhecimento. Lendo, é possível agregar ao nosso repertório os saberes transmitidos pelo autor, as experiências por ele vividas e suas sugestões.
Além disso, é através da leitura que se exercita a imaginação. Incontáveis filmes partiram a princípio de um livro, pois seu leitor não se conteve apenas em palavras, escolheu transformá-las em imagens.
É evidente também que ler é captar os sentimentos daquele que escreve. Por meio de um romance ou uma poesia, nossos corações recebem o calor que muitas vezes não vemos em nosso convívio habitual.
A leitura é imprescindível para aquele que busca transformação. É só através dela que podemos “viajar” pelos mais vastos horizontes que o homem mais sábio viu, o mais alegre presenciou e o mais romântico ouviu.
2º lugar
Autora: Nathally Yumi Yoshino Nagai
Escola: Escola Nikken
Tema: O desafio de se conviver com as diferenças
Conviver com a diversidade
Podemos afirmar que o Brasil é o país que apresenta a maior diversidade étnica do mundo, o que o torna miscigenado e único. Em vista disso, construiu-se um mito recorrente de que o povo brasileiro vive de forma harmoniosa com suas diferenças. Embora muitos acreditem nesse pensamento, o país ainda sofre com o desafio da convivência social, tendo a existência do etnocentrismo e a influência histórica como principais motivos dessa dificuldade.
Na sociologia, o termo “etnocentrismo” significa a imposição de determinadas culturas, etnias e comportamentos como sendo “corretos”. Dessa forma, todos os que não se encaixam nesses padrões são considerados “inferiores” e acabam sendo marginalizados pela sociedade. A partir disso, cria-se um certo descaso da população em relação às diferenças, o que dificulta o processo de aceitação social.
Além disso, o preconceito se torna difícil de combater devido a questões históricas de períodos conturbados vividos pela humanidade, tais como a escravidão. Há relatos de pessoas negras que afirmam sofrer com o racismo devido às raízes históricas, pois atualmente ainda há resquícios da desigualdade com a qual são tratados os indivíduos de pele escura.
Em suma, é preciso desfazer o pensamento etnocêntrico para promover a interculturalidade, a fim de reconhecer as diferenças e conseguir respeitá-las. Dessa forma, tanto as instituições escolares quanto o governo são capazes de promover centros de debate para resolver o problema que as diferenças trazem para a convivência social.
3º lugar
Autor: Brunno Santos de Paula
Escola: Escola Alegria de Saber – Hekinan
Tema: O poder transformador da leitura
Leitura, alienação e conhecimento
No século XXI, com a alta diversidade de informações, principalmente audiovisuais, a leitura vem se tornando algo cada vez mais obsoleto, o que é perigoso para qualquer sociedade, considerando o seu incrível poder de transformar a ignorância e o ódio em tolerância e conhecimento.
Como previu um pensador há algumas décadas, no “futuro” a quantidade de informação disponível seria tanta que as pessoas ficariam “anestesiadas”, inertes, aceitando pacificamente e sem questionar tudo que chegasse até elas. A leitura, muito mais do que lazer, é a ciência dos fatos, que, somada à interpretação e ao senso crítico, é indispensável para qualquer civilização.
No entanto, não é isso que almejam a elite e os poderosos, pois é muito mais fácil controlar um ou mais povos em discórdia e/ou ignorantes – para fins pessoais, obviamente – do que seria se os mesmos estivessem sabiamente unidos. Um exemplo histórico, embora muito atual, é a forma como o território africano foi dividido. Ou a queima de livros e a monopolização da leitura pela Igreja Católica na Idade Média. É preferível aos poderosos que a população acredite em telejornais e revistas sensacionalistas, em vez de buscar se informar através de fontes, livros e artigos diferentes, desenvolvendo dessa forma seu perigoso poder crítico.
Logo, pode-se observar que, para qualquer mudança ou melhora dentro de uma sociedade, a leitura é um item imprescindível. Porém, por esse mesmo motivo, continuará sendo desmotivada por aqueles que detêm o poder. Então, o questionamento final é: serão as mazelas sociais suficientes para despertar o povo?
Consulado-Geral do Brasil em Nagoia