As consequências econômicas em decorrência do novo coronavírus poderiam levar a um adicional de 11 milhões de pessoa à pobreza no Leste Asiático e Pacífico a menos que “ação urgente” seja tomada, alertou o Banco Mundial em um relatório divulgado na segunda-feira (30).
No cenário de pior caso descrito pela instituição financeira sediada em Washington, a região poderia sofrer sua crise mais acentuada em mais de duas décadas, afundando grande parte da Ásia em uma prolongada recessão.
A estimativa de referência do banco projeta que o crescimento regional poderia diminuir para 2.1% em 2020, comparado a um crescimento estimado de 5.8% em 2019. Entretanto, sob sua projeção de pior caso, a economia da região poderia contrair em 0.5%, criando o potencial para uma crise ampliada.
Na China, o epicentro do surto de coronavírus, o banco projetou um declínio no crescimento para 2.3% na projeção de referência para 2020. No pior caso, o crescimento da China desapareceria inteiramente a 0.1%, queda dos 6.1% em 2019.
Tal redução aprofundaria consequências para a economia global. A última vez que a China vivenciou um encolhimento da economia foi em 1976, quando a morte do líder do Partido Comunista Mao Zedong encerrou mais de 1 década de tumulto social e econômico dentro do país. Mas ao contrário, entretanto, a China é agora a segunda maior economia do mundo e um motor primário global de crescimento, o que significa que qualquer interrupção na sua economia será sentida em todo o mundo.
“Sofrimento econômico significante parece inevitável em todos os países”, disse o relatório, alertando que a região inteira da Ásia Pacífico deveria se preparar para um “sério impacto” na pobreza e bem-estar, com doença, morte e perda de rendas.
O relatório observou que embora as estimativas fossem projeções, e ainda pudessem mudar, elas serviram para ressaltar a escala de potencial dano econômico e subsequente necessidade para ação urgente.
“Todos os países no Leste Asiático e região do Pacífico, e além, devem reconhecer que, junto a ações nacionais ousadas, cooperação internacional mais profunda é a vacina mais eficaz contra essa ameaça virulenta”, disse o relatório.
Em uma tentativa de minimizar o choque econômico, o Banco Mundial prometeu fornecer $14 bilhões em suporte financeiro para países em desenvolvimento e enviará até $160 bilhões ao longo de 15 meses para proteger os pobres e vulneráveis.
Sofrimento econômico na Ásia Pacífico
Temores de uma recessão generalizada na região cresceram nas últimas semanas, enquanto o vírus continua a se espalhar em grande parte da Ásia, resultando em isolamentos forçados disseminados, com viagens suspensas, lojas e fábricas fechadas.
A crise na Ásia Pacífico é principalmente grave porque a região já havia passado meses lidando com os efeitos econômicos negativos da guerra comercial entre EUA e China. O crescimento econômico da região “diminuirá de forma significativa em todos os cenários”, disse o relatório.
Indonésia, Papua Nova-Guiné e as Filipinas provavelmente serão os mais atingidos, enquanto Vietnã Camboja, Laos, Mongólia e Myanmar são os poucos países que devem ter crescimento – a níveis significantemente mais baixos do que o ano passado.
Esses países serão principalmente afetados por uma queda no turismo ao longo dos próximos meses. Em países como Malásia e Tailândia, receitas provenientes do turismo formam mais de 10% do PIB. Fechamentos de fronteiras internacionais e interrupções na aviação e indústrias de envios também representarão desafios para exportações de produtos.
Muitos desses países já tinham economias fracas ou em desenvolvimento – o que significa que o choque do surto de coronavírus poderia deixar milhões isolados na extrema pobreza, definida como renda de $5.50 por dia ou menos.
O relatório projetou que as taxas de pobreza poderiam dobrar em famílias que são particularmente vulneráveis, como aquelas ligadas à fabricação ou turismo.
O que precisa ser feito
A taxa e facilidade de recuperação nesses lugares dependerão de quão rápido a pandemia pode ser contida, disse o relatório.
É por isso que a contenção precoce e medidas de mitigação são fundamentais. O relatório apontou Singapura e Coreia do Sul como exemplos de conter efetivamente o vírus sem causar danos severos na economia, e atribuíram seus sucessos aos altos níveis de testes, rastreamento e quarentena.
Esses países aprenderam com epidemias anteriores como o surto da SARS em 2003, e investiram em vigilância de doenças e sistemas de resposta. Quanto mais rápido outros países seguirem isso, mais rápido eles podem superar a situação e se recuperar, disse o relatório.
Governos também precisarão implementar uma série de medidas para abrandar o abalo sobre seus cidadãos, e evitar um aumento na pobreza o tanto quanto possível. Isso inclui subsídios para auxílio-doença, injeções de liquidez para ajudar pequenas e médias empresas a continuarem nos negócios e alimentação escolar e outros suportes para estudantes afetados.
Finalmente, os países devem trabalhar juntos e apoiar um ao outro nesse tempo difícil. Isso significa manter o comércio global aberto, compartilhar o fornecimento de produtos médicos fundamentais, ou mesmo eliminar tarifas desses itens.
Fonte: CNN Business