Na área costeira da Antártica, parte da neve não é branca, mas verde. E enquanto pequenas quantidades de neve verde têm sido vistas há anos, ela começou a se espalhar por todo o continente por causa da mudança climática.
De acordo com um estudo publicado na quarta-feira (20) no jornal Nature Communications, a cor vibrante é causada pelo desenvolvimento de algas microscópicas por toda a superfície da neve.
Usando dados de observações em campo, uma equipe de pesquisadores na Universidade de Cambridge da British Antartic Survey criou o primeiro mapa de grande escala da alga verde e previu a propagação futura da neve bizarra.
A neve verde aparece ao longo da costa da Antártica, crescendo em áreas “mais quentes”, onde as temperaturas médias ficam acima do ponto de congelamento no verão. Embora as algas individuais sejam microscópicas, quando crescem em grande escala, a neve verde pode ser vista do espaço.
Para o estudo, a equipe combinou pesquisa no local de dois verões na Península Antártica com imagens do satélite Sentinel-2 da Agência Espacial Europeia tiradas entre 2017 e 2019. No total, a equipe identificou mais de 1,6 mil eflorescências algais na superfície da neve.
A equipe descobriu que a distribuição de alga de neve é fortemente influenciada por aves marinhas e mamíferos, porque seus excrementos funcionam extremamente bem como fertilizantes. Mais de 60% das eflorescências foram encontradas perto de colônias de pinguins, e outras perto de locais de ninhos de aves.
NERC-supported institution @SAMSoceannews used satellite data and fieldwork observations to map the spread of algae on the Antarctic coastline.
SAMS findings conclude that the spread of this so-called ‘green snow’ is increasing with global warming.https://t.co/DTMeawRdtI pic.twitter.com/I2E46RwJIl
— Natural Environment Research Council (@NERCscience) May 21, 2020
“Isso é um avanço significativo em nossa compreensão de vida com base em terra na Antártica, e como isso pode mudar nos próximos anos com o aquecimento do clima”, disse em uma coletiva de imprensa o Dr. Matt Davey da Universidade de Cambridge, autor líder.
Se populações de aves forem fortemente afetadas pela mudança climática, como elas provavelmente serão, as algas poderiam perder suas principais fontes de nutrientes. Mas os resultados do estudo indicam que a neve verde se espalhará massivamente, visto que as temperaturas globais aumentam.
Isso é porque para prosperar, os organismos precisam de fornecimento disponível de água. As temperaturas na península onde a neve verde foi encontrada aumentaram drasticamente nas décadas recentes, aumentando a quantidade de água disponível.
Como o planeta esquenta e mais da neve da Antártica derrete, as algas se espalharão, disseram cientistas. E enquanto algumas algas serão perdidas para áreas que perdem neve totalmente, muito mais será ganho.
Não é claro como a propagação das algas afetará o planeta. Elas representam um papel importante no ciclo de nutrientes e extração de dióxido de carbono da atmosfera através da fotossíntese, disse Davey, mas também escurece a neve, e absorve mais calor do sol.
A quantidade de algas encontrada pela equipe cria uma captura de carbono (sequestro de carbono) que absorve cerca de 500 toneladas de carbono a cada ano, o equivalente a cerca de 875 mil viagens de carro no Reino Unido, disseram pesquisadores.
Na verdade, a quantidade de algas encontrada é uma estimativa moderada, porque o satélite foi capaz somente de capturar as algas verdes, perdendo suas parceiras vermelhas e laranjas.
“A neve é multicolorida nos lugares, com paletas de vermelhos, laranjas e verdes – é uma visão incrível”, disse Davey.
Fonte: CBS News