Como o Japão se ajusta para um novo normal de trabalho remoto e distanciamento social, uma proposta para dispersar operações governamentais e corporativas em todo o país começou a ganhar tração.
O parlamento, ministério e outras entidades centrais do governo, assim como muitas sedes corporativas e instituições de pesquisa, estão agora concentrados na área de Tóquio. Espalhá-las por regiões diferentes poderia ajudar o país a evitar se desligar completamente caso uma pandemia catastrófica ou desastre natural atingir a capital.
Um grupo de legisladores do dominante Partido Liberal Democrático liderado pelo membro da câmara dos representantes, Keiji Furuya, se encontrou em 25 de junho para discutir a ideia. Eles visam elaborar uma proposta detalhada até o fim deste ano.
Ao invés de mover tudo para fora de Tóquio, o grupo imagina levar certas funções do governo para outros lugares e criar locais de apoio (backup) para operações baseadas em Tóquio. O parlamento continuaria na capital, por exemplo, mas uma instalação alternativa em outro lugar poderia ser usada quando o prédio da Dieta não pudesse.
O grupo também poderia recomendar que companhias dispersassem as funções gerenciadas pelas suas sedes. Várias regiões no Japão teriam suas próprias características, como Tóquio, que serve como o centro financeiro.
O debate do Japão sobre descentralizar o governo e atividades corporativas não é novo. Mas a ideia nunca ganhou muita tração até agora, visto que a pandemia marca os riscos associados com doença infecciosa e força a sociedade a mudar a maneira que ela vive e trabalha.
Uma pesquisa recente do Gabinete descobriu que 55,5% dos entrevistados nos 23 distritos de Tóquio vivenciaram o trabalho remoto, comparado com 34,6% a nível nacional. Deixar a capital é cada vez mais atrativo, com 35,4% das pessoas na faixa dos 20 anos que vivem nos 23 distritos manifestando mais interesse em se mudarem.
“Essa é uma grande oportunidade para corrigir a extrema concentração de pessoas e coisas em Tóquio”, disse o ministro da economia e política fiscal Yasutoshi Nishimura aos repórteres em 21 de junho.
“Se pudermos distribuir as operações que podem ser realizadas remotamente para áreas fora de Tóquio, podemos espalhar as funções da capital”, disse Yutaka Okada do Instituto de Pesquisa Mizuho. “O governo pode encorajar companhias a se espalharem, assim como tomar a liderança sobre isso”.
Líderes corporativos acolhem bem uma mudança. A Federação de Negócios do Japão, ou Keidanren, propôs mover certas agências do governo para fora de Tóquio no fim de março para impulsionar economias locais.
A Associação do Japão de Executivos Corporativos recomendou em 16 de junho que o governo, novamente, considerasse a opção.
Não é incomum para a capital de um país não ser sua maior cidade – veja Washington e Nova Iorque nos EUA ou Canberra e Sydney na Austrália. A Indonésia anunciou planos de mover sua capital para Kalimantan Oriental a fim de abrandar o congestionamento em Jacarta e deixar a cidade focar em desenvolvimento econômico.
Enquanto isso, Tóquio disse que sua população passou de 14 milhões pela primeira vez desde 1º de maio. Ela também registrou mais casos de Covid-19 do que qualquer outra província japonesa, destacando o risco do sistema de saúde ficar sobrecarregado.
Companhias continuam debandando para a capital, com 312 movendo suas sedes para Tóquio e três províncias vizinhas em 2019 – um aumento líquido pelo 9º ano consecutivo.
Fonte: Asia Nikkei