Uma pousada em Otsuchi (Iwate) que se tornou um dos símbolos mais icônicos da força mortal do tsunami causado pelo Grande Terremoto do Leste do Japão em 2011 será derrubada, 9 anos e meio após o desastre.
A imagem devastadora do barco chamado Hamayuri, que ficou preso na parte superior da pousada após o tsunami, foi destacada em coberturas de notícias em todo o mundo.
Inicialmente, o governo local dessa cidade costeira buscou maneiras de preservar a pousada danificada, mas após anos de debate e mudança de pessoal, autoridades finalmente decidiram derrubar o que restou da construção.
O Hamayuri original foi removido e desmantelado dois meses após o desastre quando o governo da cidade de Kamaishi na província que era dono dele considerou a embarcação “perigosa”.
Mas antigos residentes de Otsuchi e artistas que residem fora da província organizaram uma campanha para produzir uma réplica do barco. O proprietário da pousada também concordou com o plano.
Kazuko Furudate, que chefia uma organização sem fins lucrativos que trabalhou para restaurar o barco e preservar o local, ficou desapontada com a decisão de se livrar da pousada.
“O desastre destruiu muitas áreas, mas Otsuchi em particular incorreu danos enormes”,disse ela. “Mesmo assim, nem uma relíquia do desastre vai ser preservada aqui? Isso não faz sentido. Lamento pelas gerações de meus filhos e netos”.
Em 2012, o governo da cidade decidiu apoiar a campanha para fazer a réplica do barco e manter a área ao redor da pousada, e promulgou um decreto a fim de levantar dinheiro para o projeto.
O custo estimado do projeto foi de ¥450 milhões (US$4,4 milhões), disse a cidade.
Mas somente ¥3,95 milhões foram arrecadados até agora.
Quando o decreto foi promulgado, a paixão para preservar o que restou mesmo entre os apoiadores começou a desaparecer.
Muitos residentes da cidade também se opuseram constantemente à ideia de preservar a visão “feia” da pousada, que os faz lembrar da tragédia.
Quando a reconstrução progrediu, exigências para desmantelar e remover a pousada cresceram.
Com as chegadas e idas de prefeitos, as políticas da cidade também mudaram.
O prefeito que promulgou o decreto apoiava a ideia de tornar o desastre de 2011 parte da “cultura de Otsuchi”,
O prédio do governo da cidade era, de fato, uma outra relíquia do desastre, visto que 39 funcionários morreram no local após o tsunami ter invadido a estrutura de concreto.
O prefeito queria preservar o prédio também, com a esperança de que tais relíquias atrairiam visitantes a Otsuchi.
Mas quando um novo prefeito assumiu o posto em 2015, a cidade mudou para preservar o legado do desastre “sem depender de prédios” e o antigo prédio do governo foi eventualmente desmantelado em 2019.
Custos de tal demolição foram subsidiados pelo governo central como parte dos esforços de reconstrução. Mas o suporte não estará mais disponível após o fim do ano fiscal de 2020.
Encarando essa realidade, o proprietário da pousada decidiu aceitar a nova política da cidade e concordou em se livrar do que restou.
Em 11 de setembro, a assembleia da cidade aprovou um orçamento de gasto suplementar que inclui ¥40 milhões para o custo de desmantelar a pousada.
O governo espera ter compreensão das pessoas que doaram fundos para preservar a pousada e criar uma réplica do Hamayuri.
Ele planeja revisar o decreto para que o dinheiro possa ser usado de outras maneiras a fim de preservar o legado do desastre.
Fonte: Asahi