Uma das cenas da médica japonesa atendendo uma paciente brasileira, do especial que foi ao ar no domingo (Excite)
Fluente em 4 idiomas – japonês, português, espanhol e inglês – a médica japonesa Kaori Minamitani (南谷かおり), é diretora do Departamento Médico Internacional do Centro Hospitalar Geral Rinku, na tradução livre do りんくう総合医療センター, situado na cidade de Izumisano (Osaka).
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Esse hospital está localizado a apenas 7 quilômetros do KIX – Aeroporto Internacional de Kansai, antes de atravessar a ponte. Por isso, costuma atender muitos pacientes estrangeiros que apresentam problemas de saúde durante o voo, mas também outros que residem no Japão e ouviram falar da médica.
Para os pacientes estrangeiros, o fato de ir a um hospital no país estranho, pode causar ansiedade. Mas nesse hospital é diferente, pois a doutora Minamitani já passou por isso quando morou no Brasil. Sabe a angústia de não poder se comunicar em um país estrangeiro.
Trajetória de superações e estudos da médica japonesa
Por transferência a trabalho do pai, um engenheiro, toda a família se mudou, de Osaka para o Brasil quando ela tinha 11 anos e cursava o sexto ano primário. Como não sabia falar português, teve que ingressar no quarto ano do ensino fundamental, ou seja, foram 2 anos de retrocesso. Como no Brasil a escola é de meio período, no outro frequentava uma suplementar japonesa.
Teve que se esforçar para estudar o novo idioma, o português.
Mas avançou rápido. Tentou vestibular e foi aprovada com 16 anos (impensável no Japão) para o curso de Medicina na Universidade Federal do Espírito Santo, onde se formou em 1987 e no ano seguinte obteve a credencial do CRM e nesse mesmo ano voltou para sua terra natal como estudante de pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de Osaka.
Pelo seu currículo, a médica se dedicou muito a estudar e à sua carreira. Em 1989 foi admitida como residente na emergência do Hospital Santa Casa no Espírito Santo. No ano seguinte, foi para o Hospital Federal dos Servidores do Estado, no Rio de Janeiro, como estagiária de radiologia.
A 3.ª da esq. p/ dir. a médica japonesa com seus colegas no hospital do Rio de Janeiro (arquivo pessoal via HRC-GH)
Em 1992 ingressou novamente como estudante no Departamento de Radiologia da Universidade de Osaka e 4 anos depois obteve a licença médica do Japão, aprovada no difícil exame nacional.
Depois de ter passado por hospitais nas cidades de Izumisano e Kaizuka, ela ingressa onde está até o momento, fazendo carreira e, além disso, ainda é professora convidada do curso de pós-graduação da Universidade de Osaka.
Experiências da médica japonesa que fala português e outras línguas
Quando a pessoa fica doente em um país estrangeiro, muitas vezes se sente desconfortável por causa do idioma e das diferenças culturais. Naquela época (no Brasil), havia um médico descendente de japoneses, quando era estudante de medicina. Conta que trabalhou fazendo bico como intérprete médico para um expatriado japonês e sua família. No entanto, relata que não conhecia o sistema médico japonês e, mesmo depois de se formar em uma faculdade de medicina, de 6 anos, ainda se sentia imatura aos 22 anos.
Por isso, decidiu sair do Brasil e estudar no Japão por um ano, por conta própria, porque sendo cidadã nipônica não se enquadrava na categoria de estudante estrangeira.
Na volta ao Brasil, teve que prestar o concurso para se tornar médica residente, no qual foi aprovada, mesmo já tendo o CRM.
Como no Espírito Santo não havia especialização em Radiologia naquela época, teve que estudar em São Paulo e no Rio de Janeiro. “Fiz estágio como residente em um hospital público do RJ por dois anos, mas uma estrangeira como eu não podia ser admitida porque, por lei, não se pode tornar servidor público”, explicou.
Pela sua história, a médica japonesa teve uma trajetória de superações e muito estudo, além de cooperações com as entidades que dão apoio aos estrangeiros no Japão.
Por isso, foi o tema do programa Jounetsu no Tairiku (情熱の大陸), o qual foi levado ao ar no domingo (4), às 23h, na emissora TBS.
O programa mostrou a médica atendendo uma brasileira residente, com agravamento da arritmia. Assim como essa paciente, ela atende muitos que moram no Japão e não falam o idioma japonês.
Criação de uma equipe de intérpretes especializados
A Minamitani-sensei explica que “a interpretação médica é um trabalho com uma grande responsabilidade que pode custar uma vida. No campo, nos dividimos em intérpretes médicos veteranos e apoiadores aprendizes certificados e, para evitar erros de tradução e acumular experiência”. Por isso, ela criou um sistema onde 2 intérpretes atuam juntos para escrever os relatórios e verificar o conteúdo.
A médica Minamitani em atendimento médico (arquivo pessoal via HRC-GH)
Para aliviar a carga, a médica, doutora Minamitani, tem hoje 4 coordenadores para gerenciar as equipes de dezenas de intérpretes.
A vida dela é corrida. Ainda assim, a cada 2 anos vai ao Brasil para não perder seu visto permanente e para manter contatos com os colegas médicos de lá.
“Recebi educação na área de medicina no Brasil e no Japão e atualmente trabalho como médica aqui. Ao tratar pacientes estrangeiros é preciso ter em mente as diferenças culturais nos cuidados médicos, como obter o consentimento informado e a compreensão da religião e etnia. Ao contrário do Japão, é raro um paciente estrangeiro dizer ‘vou deixar por sua conta, doutor ou doutora’. É preciso explicar com antecedência os custos dos exames e o sistema de seguro”, pontuou.
Fontes: HRC-GH e Excite