Diversos suprimentos de socorro são enviados com a intenção de apoiar as áreas afetadas pelo terremoto de Ishikawa, porém nem todos eles são realmente úteis para os desabrigados.
“Esse tipo de ajuda só atrapalha. Demorei 5 anos para conseguir falar isso“, disse um homem que trabalha na administração de abrigos de emergência.
Meias elásticas são necessárias
Em 3 de janeiro, internautas começaram a falar sobre os suprimentos de socorro entregues pela Prefeitura de Tokushima à Ishikawa.
Quando a prefeitura de Tokushima publicou na rede social X (antigo Twitter) que havia entregue mil conjuntos de meias elásticas, a reação inicial dos internautas foi bastante negativa. “O que eles precisam agora é de água e comida! Por que meias?”, criticaram muitas pessoas.
Entretanto, as meias elásticas são meias especiais que apertam fortemente a perna, algo que é importante para as vítimas. Elas são usadas para evitar a “síndrome da classe econômica”, um tipo de trombose que surge durante ou após uma viagem prolongada de avião, com pouco espaço para a mobilização dos membros inferiores.
Posteriormente, diversas pessoas que estavam morando em abrigos agradeceram à prefeitura e disseram: “É exatamente disso que precisamos” nas redes sociais.
Alimentos vencidos foram enviados
As prefeituras de Ishikawa e Toyama declararam que não aceitarão suprimentos de ajuda de pessoas físicas, citando o tempo e o esforço necessários para classificá-los.
No entanto, um centro de evacuação na cidade de Nanao, na província de Ishikawa, aceitou os suprimentos enviados.
Entre as diversas caixas de papelão, havia algumas com a etiqueta “BOTSU”, que significa descarte, que continham arroz, pão, molhos para salada e outros alimentos vencidos. Havia também tofu e outros itens que precisavam ser refrigerados para serem consumidos.
Um estudante universitário, cuja casa dos pais nas proximidades foi afetada pelo desastre e que estava ajudando na triagem no centro de evacuação, disse: “Não temos escolha a não ser descartar os produtos porque não haverá lugar para novos suprimentos”.
A assistência “problemática” também foi problema em desastres anteriores
O que fazer para fornecer os suprimentos de socorro necessários nas áreas afetadas, além de dinheiro?
Kazuo Sato, que foi afetado pelo Grande Terremoto do Leste do Japão de 2011 e estava envolvido na administração de um centro de evacuação, diz: “Quero que as pessoas imaginem a situação das outras que estão recebendo os suprimentos antes de enviar qualquer coisa”
Sato também informou sobre produtos que não são bem-vindos nessa situação, com foco em:
- Coisas que simplesmente ninguém gostaria de receber: brinquedos que faltam peças, roupas velhas, rasgadas ou danificadas, entre diversos outros itens que estão parados dentro da casa por anos e ninguém usa, não serão úteis em desastres também. “Se você não está usando, provavelmente ninguém vai usar também“, comenta.
- Cesta de produtos variados: Se você enviar cobertores, toalhas, alimentos enlatados, bananas e outros itens diversificados na mesma caixa, eles terão que ser antes separados no centro de evacuação para depois serem redistribuídos. Os alimentos podem estragar, tornando outros itens inutilizáveis também. “Para evitar a criação de um senso de injustiça entre a população afetada, os suprimentos de ajuda devem ser distribuídos de forma justa nos abrigos, para atender a todos”, completa Sato.
Ele também listou alguns produtos que, à primeira vista, possam parecer inúteis, mas foram bem-recebidos por desabrigados.
- Temperos: Sato comenta que, quando ele teve que evacuar no terremoto, o abrigo recebeu arroz, pão, macarrão seco e outros itens que poderiam ser armazenados por um longo período de tempo, mas faltavam condimentos como molho de soja e missô. “Quando chegavam os temperos, era visível que algumas pessoas recuperavam o apetite“, explica.
- Material de escritório, café e livros: Matérias de escritório foram muito úteis para o gerenciamento do centro de evacuação, como manter registros e informar as vítimas sobre a situação. Elas também ficaram muito felizes em receber itens como café, TVs e livros como mangás, que elas mesmas não teriam pedido por considerá-los luxos, juntamente com suprimentos de socorro.
Atualmente, as prefeituras de Niigata, Ishikawa e Toyama estão aceitando apenas doações de organizações ou em grandes quantidades, devido a dificuldade com organização de doações ou porque já há suprimentos suficientes.
Fonte: NHK