Seu nome foi limpo 58 anos após o incidente.
O ex-boxeador profissional Iwao Hakamada não foi considerado culpado pelo caso de assassinato quádruplo em 1966, decidiu um tribunal em Shizuoka nesta quinta-feira (26) – um veredito de novo julgamento aguardado há muito tempo para o réu e seus apoiadores, que lutou para provar sua inocência desde que foi preso pela primeira vez pelo crime.
Novos julgamentos são raros no Japão.
A decisão do Tribunal Distrital de Shizuoka pavimenta o caminho para Hakamada, de 88 anos, ser exonerado se promotores não apelarem da decisão dentro de 2 semanas.
Esse é o quinto caso na história do Japão pós-guerra que uma pessoa, cuja pena de morte foi finalizada, ter sido considerada inocente em um novo julgamento.
Devido as suas condições de saúde, Hakamada não estava presente no tribunal nesta quinta-feira. Cerca de 501 pessoas fizeram fila para conseguir um dos 40 assentos disponíveis dentro do tribunal.
O caso se centra no assassinato de uma família de 4 pessoas, por esfaqueamento, na casa onde moravam em 30 de junho de 1966, antes da residência ter sido queimada. Cerca de ¥80 mil em dinheiro também sumiram.
Mais de mil policiais foram enviados para auxiliar na investigação na primeira semana após o crime. Mais de 1 mês depois, a polícia prendeu Hakamada, que era funcionário do executivo da fábrica de missô que foi assassinado, após investigadores terem encontrado vestígios de gasolina e sangue que não eram dele em seu pijama.
Inicialmente, Hakamada negou as acusações contra ele. Uma maratona de interrogatórios levou a uma confissão inicial, a qual ele desmentiu posteriormente, alegando que não tinha culpa em sua primeira audiência no tribunal em novembro de 1966. Ele mantém sua inocência desde então.
Manchas de sangue em 5 peças de roupa encontradas 14 meses após o crime em um barril na fábrica de missô onde Hakamada e o executivo trabalhavam, as quais dizem ter sido usadas pelo autor quando o crime foi cometido, formaram o foco chave do caso.
Promotores descreveram as manchas de sangue como vermelhas escuras, mas a equipe de defesa argumentou que as roupas foram colocadas ali, visto que elas teriam perdido a cor se estivessem em um barril de missô por mais de 1 ano.
Decisões do tribunal passadas indicaram a possibilidade de que investigadores poderiam ter as colocado as roupas ali para consolidar o caso contra Hakamada.
Após sua condenação, Hakamata solicitou um novo julgamento 2 vezes. Sua primeira solicitação foi negada pelos tribunais distrital, superior e supremo. Mas em 2014, o Tribunal Distrital de Shizuoka aprovou seu segundo pedido – um grande avanço que levou a sua soltura após cerca de 50 anos em detenção e mais de 30 anos no corredor da morte.
O Guinness World Records reconhece Hakamada como o prisioneiro que mais tempo ficou no corredor da morte no mundo.
As décadas que Hakamada passou sob detenção causaram problemas em sua saúde. Especialistas dizem que ele sofre de uma doença mental chamada Síndrome de Ganser por ter ficado detido por tanto tempo.
A Síndrome de Ganser é um raro distúrbio dissociativo que envolve comportamento estranho e alucinações comumente vistas em prisioneiros.
Fonte: Japan Times