O brasileiro Demerson, condenado à prisão perpétua pelo assassinato e roubo da esposa (arquivo da CTV)
Na noite de sábado (28) o jornalismo da Chukyo TV (CTV) apresentou o golpe do amor como possível causa do latrocínio da brasileira Roseli Almeida Aihara, 46 anos, no prédio onde vivia, na cidade de Suzuka (Mie), em 3 de maio de 2023.
O réu no julgamento desse crime, mentor e executor, Demerson Almeida Prates (プラテス・アルメイダ・デメルソン), 50, brasileiro, que morava em Yokkaichi (Mie), condenado à prisão perpétua, em 16 de dezembro deste ano, estava cegamente apaixonado por uma mulher com quem queria se casar, mas precisava se divorciar da esposa, Roseli, com quem já não morava sob o mesmo teto.
Antes de ser preso, o marido negou ter cometido o crime em uma entrevista à CTV, dizendo: “Não havia nenhum motivo para matá-la”. No entanto, quando foram postadas imagens do casal em uma briga violenta, em uma rede social, a situação começou a mudar.
Durante o julgamento, que durou 4 meses, foram reveladas situações chocantes antes do crime. De acordo com a acusação, os 3 réus eram o marido Demerson, Lucas Haruyuki Hakozaki (ハコザキ・ルカス・ハルユキ), 24, “genro” pois tinha uma união estável com a filha do casal Kimberly Kaori Almeida Aihara (アイハラ・アルメイダ・キンベリ・カオリ), 27 anos.
A filha Kaori foi acusada de ajudar no crime, portanto, cúmplice do latrocínio, no papel de vigiar as ações da mãe para informar ao pai quando ela voltasse para casa.
Demerson planejou o roubo e o assassinato e foi condenado à prisão perpétua porque deu desculpas irracionais e não demonstrou remorso durante o julgamento. Permaneceu de cabeça baixa, a expressão inalterada, enquanto o juiz presidente lia o veredicto.
Mas, no julgamento negou consistentemente a intenção assassina. Lucas, o namorado da filha, que também foi cúmplice, alegou que tentou impedir o latrocínio.
32 anos de casamento
Demerson e Roseli estavam casados há 32 anos, quando ele tinha 18 e ela 16 anos. Dois anos após a cerimônia, vieram ao Japão para trabalhar. Mais tarde, o marido conseguiu uma renda estável trabalhando como motorista de caminhão. O casal teve duas filhas.
Parecia ser uma família feliz.
Porém, o que foi revelado no julgamento é que “ela era uma mulher que sequer preparava um bentô para o marido ir trabalhar”, afirmou ele.
Também soube-se que quando as filhas estavam no primário, ele começou a dizer coisas desse tipo para a esposa. Por outro lado, Roseli também começou a ficar insatisfeita com as atitudes dele. E, passados alguns anos, o casal estava vivendo em casas separadas.
Então, em novembro de 2022, seis meses antes do crime, Demerson travou uma briga violenta com Roseli, que resultou na chamada da polícia. Após uma discussão, eles jogaram aleatoriamente os pertences de Roselli para fora da casa e a expulsaram. Demerson ficou com as filhas.
Roseli postou sobre a briga em uma das redes sociais e foi viver sozinha.
Fato surpreendente durante o julgamento: golpe do amor
Durante o julgamento que começou em setembro de 2024, a acusação revelou um fato surpreendente. “O réu Demerson conheceu uma mulher que se autodenominava ‘Marie’ na internet e começou a ficar apaixonado por ela”.
O réu Demerson referiu-se a Marie, mulher por quem se apaixonou, que mora nos Estados Unidos, como “minha amada esposa”, e transferiu mais de 1 milhão de ienes em dinheiro para uma conta especificada.
Lucas, o genro, disse que “Demerson queria se divorciar da Roseli para se casar com Marie. Estava apaixonado por ela”.
Depôs também que antes do crime falava muitas vezes sobre essa tal Marie.
No entanto, Lucas suspeitava que se tratava de um golpe do amor e o advertiu, mas não deu ouvidos, declarou.
“Marie é uma pessoa decente e tem mantido contato comigo”, dizia Demerson. “Quando falei sobre isso (golpe do amor), o tom de Demerson aumentou e parecia zangado”, declarou Lucas.
Fotos dos 3 réus já condenados e da Roseli, a vítima (CTV)
“Para se divorciar de Roseli custaria dinheiro para passar pelas formalidades (no cartório e justiça brasileira), então para se casar com Marie ele teria que matá-la”, disse Lucas que ouviu isso depois de 4 dias do crime.
“Vida boa no Brasil” era a promessa
Por outro lado, a filha Kaori, condenada a 15 anos de prisão, declarou que “não recebi nenhum dinheiro do meu pai como indenização pelo caso”. Ainda acrescentou: “Meu pai me disse que eu poderia ter uma vida boa no Brasil”.
Segundo ela, havia condições para isso. A ideia era que se Marie lhe enviasse 600 milhões de ienes…”, declarou.
Em resposta, o réu Demerson alegou no tribunal que tinha um relacionamento com Marie através do Forex e que o dinheiro que transferiu para a conta dela era um investimento.
Golpe do amor foi o gatilho para o latrocínio?
Enfim, segundo um investigador policial especializado em golpe do amor ou fraudes românticas, o caso do Demerson “foi um típico golpe do romance moderno”.
No entanto, uma pessoa envolvida na investigação desse caso, disse para a CTV que “nunca ouvi falar de golpe do amor como motivo de assassinato”.
A acusação leu no tribunal as mensagens que Demerson trocou com a “amada” Marie pouco antes do crime: “estou fazendo um esforço para que possamos estar juntos”.
Passados 4 dias do crime, “neste momento, estou livre para você (Marie). Para termos um casamento de verdade, para quando desejar. Não há nada que nos impeça de formalizar nossa relação”, escreveu Demerson.
Na decisão, o juiz do Tribunal Distrital de Tsu concluiu que Demerson passou a acreditar que, para se casar com Marie, seria melhor que Roseli desaparecesse.
Fica a pergunta: o golpe do amor foi um gatilho para esse crime?
A expressão de Demerson não mudou quando lhe foi proferida a sentença.
No dia seguinte, os 3 entraram com recurso de apelação: ele pela prisão perpétua, o genro por 20 anos e a filha por 15.
A data da audiência do recurso, a ser realizada no Tribunal Superior de Nagoia, ainda não tem data marcada.
Fonte: CTV
