Com uma beleza única e uma história marcada por desafios e descobertas, Tamilyn Yukari Nakaya é um exemplo inspirador de como a mistura de culturas pode se transformar em força e expressão. Filha de brasileiros e nascida no Japão, ela cresceu em Shizuoka, onde desde cedo precisou equilibrar dois mundos: o cotidiano escolar japonês e a cultura brasileira trazida de casa.
Aos 14 anos, sua vida tomou um novo rumo com um convite inesperado para um ensaio fotográfico. A partir dali, Tamilyn trilhou caminhos pela moda, pela música e principalmente pela dança – com destaque para o samba, que se tornou não apenas sua paixão, mas também uma ponte entre suas origens.
Nesta entrevista exclusiva ao Portal Mie, Tamilyn compartilha os momentos marcantes da sua trajetória, suas inspirações e como encontrou, na arte, um caminho de conexão, superação e orgulho pelas suas raízes.
Portal Mie: Como foi crescer em Shizuoka frequentando escolas japonesas, mas também mantendo o contato com a língua portuguesa através da sua mãe?
Tamilyn: Eu acho que foi normal, porque meus pais já misturavam o português e japonês em casa. Muitas palavras básicas como dizem, eu já usava normalmente em casa. Mas com o tempo o japonês foi crescendo entre nós também, pois eu usava mais o japonês.
Foi quando minha mãe aproveitando que na escola japonesa eu estava aprendendo letras em romano, ela começou a me ensinar em casa, nome correto das letras em português, as sílabas, etc. Criamos um diário onde eu escrevia o que acontecia no dia, e ela me respondia, tudo escrito em português, ali eu aumentava meu vocabulário, corrigia erros de escrita, mas eu ainda apanho no português. (risos)
Portal Mie: Você se lembra de como se sentiu ao receber o convite para aquele primeiro ensaio fotográfico aos 14 anos? Já imaginava que poderia iniciar uma carreira com aquilo?
Tamilyn: Nunca tinha passado pela minha cabeça, fui convidada para um ensaio e me disseram que poderia sair na capa da revista ou no portal (Nippon) da época como garota nippon girl, ou não sair em nenhum.
Eu aceitei por curiosidade, mas lembro que quando começaram a fotografar eu queria sair correndo, eu não sabia nem onde olhar, o fotógrafo foi orientando, teve muita paciência, ele fazia caretas, colocava peruca, deitava e rolava para fazer eu sorrir porque eu estava travada.
Aquilo demorou horas, e qual não foi minha surpresa quando saiu na capa da revista a minha foto, e também no Nippon Girl, fiquei muito feliz.
Portal Mie: Como foi seu primeiro contato com o samba? O que te chamou atenção nessa dança logo de início?
Tamilyn: Na época que eu tive contato com samba, eu já fazia aulas de dança com a professora Eliane Yamashiro, e faço parte do time de samba dela até hoje.
Lembro que foi uma coisa normal, durante as aulas ela foi introduzindo o samba porque iria ter um evento e ela levou o samba, e como eu ainda não sambava participei de porta bandeira.
Mas, aquele ritmo, aqueles instrumentos e ver as pessoas dançando me chamou muita atenção. Percebi que não só os Brasileiros como os Japoneses também gostavam do ritmo, senti que era possível ter uma interação através do samba.
Portal Mie: Durante o tempo na Khaos Model Agency, quais foram os maiores aprendizados que você teve, mesmo com as limitações da idade e da escola?Tamilyn: Fora aulas de postura, expressão facial, etc. Maior aprendizado foi ter disciplina, pontualidade, respeito, organização, etc. Se bem que acredito que em todos os aspectos de nossa vida, essas qualidades sejam muito importante.
Portal Mie: Você participou de um grupo musical chamado Fênix. Como surgiu essa ideia dentro da agência e o que esse projeto representou para você naquela fase?
Tamilyn: Bom, a maioria das agencias falam que um bom modelo, não deve apenas saber modelar, então fora essa modalidade, temos aula de dança, expressão corporal, canto e outros, você pode optar.
Fiz a opção de canto e dança, o nosso manager, queria formar um grupo misto de canto e dança, então eu e meus amigos resolvemos abraçar a idéia, e começamos as aulas de canto.
Eu fui escolhida como líder do grupo, e isso foi bom, pois tive que aprender a lidar com diferentes opiniões, gostos, possibilidades e encontrar um ponto X que fosse aceito por todos. Não um líder que faz valer só o que quer, mas aprendi a respeitar e me adaptar as diferenças. Foi um grande aprendizado.
Portal Mie: O samba teve um papel importante na sua trajetória. Pode nos contar como essa dança te ajudou a lidar com sentimentos de exclusão e encontrar um lugar entre as culturas brasileira e japonesa?
Tamilyn: Como eu já havia dito, eu vi no samba, uma ponte de ligação entre as duas culturas. Até então eu era a japonesa, na comunidade brasileira, e a gaijin na comunidade japonesa, me sentia realmente uma alienígena.
Uma estranha para as duas comunidades. No samba, conheci vários japoneses que amam o samba, e até grupos formados só de japoneses, que estudam, treinam, e sambam, melhor que muitos brasileiros, e muitos brasileiros que pensam como eu que se juntam a eles e formam uma grande família.
Pois samba é ao meu ver é, amor, alegria, energia, e acredito que todos saem ganhando com essa troca. Por isso amo o samba, amo interagir com o público, amo ver sorrisos nos rostos das pessoas que nos assistem.
Portal Mie: Você se dedica a transmitir a alegria do samba para outras pessoas. O que você sente quando vê o público interagindo, sorrindo ou até tentando dançar junto com você?
Tamilyn: Feliz, feliz em ver pessoas sorrindo, feliz em sentir essa proximidade com as pessoas, feliz em sentir uma troca de energia, feliz em receber tanto, sem muito oferecer. Sempre digo, pessoas são espelhos, e se eu puder levar sorriso mesmo que seja apenas para uma pessoa, já me sinto feliz.
Portal Mie: Você também se apresenta em eventos musicais japoneses. Como é a receptividade do público japonês ao estilo brasileiro, como o samba?
Tamilyn: Muito boa, japoneses gostam de bossa nova, então o samba é bem aceito. Eu canto músicas japonesas para público brasileiro, e vice versa, tento levar vários estilos de música brasileira nos eventos, e eles gostam, querem saber o que diz a música.
A letra da música é importante para eles. Eu sempre procuro descrever o conteúdo da música, e eles interagem bem, balançam o corpo, batem palmas, é muito gratificante de se ver. Agora em eventos brasileiros, eles preferem que cantem músicas brasileiras, mas meu forte na música é a japonesa. (risos)
Portal Mie: Quais estilos de dança e música mais te influenciam hoje, além do samba? Ainda continua experimentando outros ritmos?
Tamilyn: Gosto de tudo, mas prefiro músicas românticas para cantar, mas canto vários ritmos, até já me arrisquei no sertanejo(risos). Na dança, amo ritmos fortes, samba, axé, afro, mas também gosto de outros ritmos.
Portal Mie: Que conselho você daria para jovens nikkeis que também se sentem divididos entre duas culturas e têm receio de seguir uma carreira artística?
Tamilyn: Atravessem a ponte, não esperem que os outros atravessem, aproveitem as oportunidades, e lembrem-se, pessoas são espelhos, talvez o que achamos que a outra pessoa pensa de nós, seja reflexo do nosso pensamento. E se for para fazer algo, que seja com amor pelo que faz.
Seus agradecimentos
Agradeço primeiramente ao Clayton Moraes pela oportunidade, aos meus pais pela vida e por minha formação, e a todos ao meu redor, pois nada é por acaso, todos foram importantes, mesmo aqueles que já não fazem parte do meu ciclo de amizade, tiveram uma participação na formação do que sou hoje.
Gratidão.
Contatos com Tamilyn
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Reportagem
Clayton Moraes – Fotógrafo & Colunista
Fotos – cedidas