Uma repórter da NHK foi até Calcutá, na Índia, para conhecer e acompanhar o trabalho de uma voluntária japonesa, na instituição fundada por Madre Teresa.
Ritsuko Shibuya, 58 anos, natural de Matsusaka (Mie), fez voto de pobreza e vive um cotidiano mais do que simples, há 27 anos. Largou a possível carreira de pianista, depois de um tempo de estudos na Áustria, para se dedicar às crianças com grave deficiência. Literalmente trabalha de graça, ou melhor, paga para trabalhar. Afinal, o quarto onde mora tem um custo, diária de ¥500.
Pianista em Viena
Relembra que aprendeu piano desde a tenra idade e seu sonho era estudar na Áustria. Tudo o que ganhava de mesada quando era criança guardou para esse fim. E, aos 16 anos, realizou seu sonho. Atravessou o mar e foi-se para a Europa.
Quando tinha 28 anos, seus pais lhe disseram “que tal voltar e trabalhar no Japão?”. Assim, decidiu passear um pouco antes de retornar à pátria. Como ensinava piano nas horas livres tinha umas economias. Arrumou as malas e partiu para a viagem.
Nunca mais saiu de Calcutá de Madre Teresa
Mas em Calcutá nem imagina que sua vida daria uma guinada de 360 graus. No hostel onde estava hospedada conheceu uma mulher que a convidou para fazer um dia de voluntariado em uma das instituições de Madre Teresa.
Lá, a primeira cena vista por ela foi uma mulher esticada morta na entrada. “Como o primeiro dia foi chocante, não consegui deixar tudo para trás e dizer que um dia foi suficiente”, disse para a reportagem.
E pediu para ficar mais alguns dias ajudando, os quais foram se estendendo e, por fim, desistiu de voltar ao seu país.
Trabalha todos os dias como voluntária. A cada 6 meses viaja para o Nepal ou Myanmar para poder reentrar com novo visto na Índia.
A maioria das crianças com deficiência da instituição onde está alocada foi abandonada. Grande parte tem deficiência auditiva, não fala, tampouco anda. Ela faz tudo sob orientação dos médicos da instituição, desde os cuidados com a higiene pessoal, ao fornecimento das refeições e também da reabilitação física delas.
“Mesmo que elas não falem, não andem, têm um cotidiano vívido. É o amor, importante, que recebo delas que me permite ficar aqui. Eventualmente, me fizeram ficar aqui. Quero ficar com elas, só isso. E, por acaso foi Calcutá”, relata.
Faz tudo por amor
Contou que o propósito da sua vida não era o piano, mas Calcutá.
Tudo o que Ritsuko poupou quando ainda vivia em Viena acabou há 7 anos. Desde então, tem recebido ajuda de uma instituição de caridade de Yamanashi.
A sua vida é pobre. No quarto onde mora, não tem cozinha, banheiro, ar-condicionado, nem água aquecida. A frugalidade está inclusive na sua alimentação. Biscoito molhado com água ou ensopado de verduras.
“Não quero ficar doente para não causar incômodo às crianças”, diz. Por isso, faz 1 hora de alongamento todas as manhãs.
Explica que não é doloroso para ela, pois foi uma escolha sua. Não faz isso por recomendação de ninguém. Se fosse sacrificante já teria ido embora, afirma.
Recusa à Madre Teresa de Calcutá
No passado, por 3 vezes, foi convidada por Madre Teresa a se converter a freira. Mas, no seu conceito a sua ação voluntária não tem fundo religioso. Faz por querer estar com as crianças. E, para se converter, teria que abreviar seu tempo com elas, por isso recusou.
O mais dolorido dessa atividade voluntária é quando uma das crianças morre. Ela cuida da despedida, providenciando o velório e enterro.
“É o momento mais difícil, quando da morte de uma delas. Até o limite da vida, todas querem sentir o calor humano”, conta.
As palavras de Madre Teresa estão na memória e no seu coração. “Não é possível servir às pessoas pobres vivendo em um bom local, vestindo-se bem e comendo do melhor. Servir ao próximo deve ser, na medida do possível, viver o mais próximo, como eles”, relembra.
Conta que passa dias felizes com as crianças.
Fonte: NHK