Um painel científico de prestígio nos EUA disse à Casa Branca na terça-feira (7) que não parece que o coronavírus desaparecerá assim que o tempo esquentar.
O presidente Donald Trump afirmou que “quando ficar um pouco mais quente (o vírus) milagrosamente vai embora”.
Em uma carta enviada à Casa Branca, membros de um comitê da Academia Nacional de Ciências – NAS disseram que dados são variáveis sobre se o coronavírus se espalha tão facilmente em clima mais quente como ele faz no frio, mas isso pode não importar muito, visto que poucas pessoas no mundo são imunes a esse novo vírus.
“Há certa evidência a qual sugere que o coronavírus pode ser transmitido menos eficientemente em ambientes com temperatura mais alta e umidade, entretanto, dada a falta de imunidade hospedeira globalmente, essa redução na eficiência de transmissão pode não levar a uma diminuição significativa na propagação da doença sem adoção concomitante de grandes intervenções públicas de saúde”, de acordo com a carta.
A carta citou, por exemplo, que um estudo do surto na China mostrou que mesmo sob condições de máxima temperatura e umidade, o vírus se espalhou “exponencialmente”, com cada pessoa infectada espalhando-o para cerca de 2 outras em média.
William Schaffner, especialista em doenças infecciosas no Centro Médico da Universidade de Vanderblit, que não é membro do comitê da NAS, disse que “embora esperemos que o clima contribua de alguma forma com a redução na transmissão, não podemos depender só dele. Temos que continuar a empregar distanciamentos sociais e outras medidas para reduzir a transmissão”.
Schaffner, conselheiro no Centro de Prevenção e Controle de Doenças – CDC dos EUA, observou que o relatório da NAS oferece “uma avaliação mais séria” da situação do que a de Trump.
A carta de cientistas da NAS observa que certos estudos em laboratório mostraram transmissão reduzida do vírus sob condições mais quentes e mais úmidas, mas isso ainda é uma preocupação.
A carta descreve como Chad Roy, pesquisador na Universidade Tulane, sujeitou o vírus a temperaturas quentes e úmidas no laboratórios, e o estudou por 16 horas.
Roy relata “supreendentemente” que o novo coronavírus sobreviveu mais que a influenza, varíola dos macacos, tuberculose ou o coronavírus que causa a síndrome respiratória aguda grave (SARS), de acordo com a carta do Comitê Permanente sobre Doenças Infecciosas Emergentes e Ameaças à Saúde do Século 21 da NAS.
Os cientistas enviaram a carta a Kelvin Droegemeier no Escritório de Ciências de Políticas de Tecnologia da Casa Branca.
A carta aponta que no mundo real o vírus ainda está sendo transmitido em países com clima quente.
“Visto que alguns países atualmente em climas “de verão”, como Austrália e Irã, estão vivenciando rápida propagação do vírus, uma diminuição nos casos com aumentos em umidade e temperatura em outros lugares não deveria ser assumida”, de acordo com a carta.
A carta também cita que enquanto a influenza seja tipicamente sazonal, isso não é necessariamente o caso quando há uma nova cepa de influenza e muito poucos indivíduos tem qualquer imunidade.
Novas cepas de influenza aparecem em clima quente e frio, e então haverá uma segunda onda em cerca de 6 meses.
Paul Offit, especialista em doenças infecciosas, observou que enquanto os coronavírus que causam a gripe comum sejam sazonais, esse novo coronavírus é diferente porque ele se originou em animais e não em humanos.
“Não está claro como esse vírus vai agir”, disse Offit.
Fonte: CNN