Imagem ilustrativa de homem se sentido encurralado (Wikimedia)
À medida que a aceitação de trabalhadores estrangeiros é retomada, há um número crescente de casos de estagiários técnicos que desaparecem de seus locais de trabalho porque não conseguem suportar o ambiente muito difícil.
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Em um abrigo para estrangeiros na cidade de Kobe (Hyogo), há vários deles que fugiram este ano. O que os esperava quando sonhavam em cruzar o oceano era a realidade de que não eram tratados como seres humanos.
Se você embarcou nesta nave, é um robô. Não um humano. Trabalhe, trabalhe.
Mohammad (pseudônimo), 27 anos, da Indonésia, estava trabalhando como estagiário técnico em um navio de pesca pertencente a uma cooperativa, no norte da província de Hyogo. Um tripulante agrediu sua cabeça, sobre o capacete, além de ter ouvido agressões verbais como “você é um robô” ou “não é um ser humano”.
Relatou que quase não havia folgas, além do Ano Novo e Golden Week. Muitas vezes trabalhava sem dormir, e depois, quando descansava de dia era convocado para trabalhar de novo.
“Ouvi dizer que a renda anual dos japoneses é de mais de 10 milhões de ienes, mas o salário mensal de um estrangeiro era de cerca de 100.000 ienes. Eu não conseguia comer e perdi 20 quilos desde que vim para o Japão. Não tinha com quem me consultar, então em setembro deste ano fugi só com uma mochila, pois não aguentava mais”, relatou.
Indonésio aguentou 3 anos de humilhações
O estagiário técnico indonésio é formado em pesca por uma escola técnica em seu país. Veio ao Japão em julho de 2017, cheio de sonhos. “Durante os 3 anos aguentei as humilhações e trabalhei com afinco, para obter a qualificação n.º 3 que me permite continuar a trabalhar a partir do 4.º ano”, explicou.
Depois que fugiu pediu ajuda a um amigo, do tempo de colegial, que mora em Kita Kanto. Por indicação de uma pessoa que o apoiou, mudou-se para Minna no Ie, uma casa compartilhada administrada pela PHD Association, uma organização de cooperação internacional em Nagata-ku na cidade de Kobe. Agora, ele encontrou um novo local de trabalho, marcando um recomeço.
“Somos seres humanos. Queremos que nos trate como tal”, disse o estagiário técnico indonésio.
Programa dos estagiários técnicos
O principal objetivo do Programa de Treinamento de Estagiários Técnicos Estrangeiros, o qual permitiria aprendizados enquanto trabalham, é desenvolver recursos humanos dos países em desenvolvimento. No entanto, todos os estagiários que fugiram dizem que quase não há habilidades que só possam ser aprendidas nesses locais.
Estagiário técnico indonésio mostrou seus holerites: cerca de 80 mil mensais (Kobe Shimbun)
Eles ganham muito menos do que os trabalhadores em geral, não podem mudar de trabalho, não podem formar uma família e aguentam pressões pois a maioria nem sabe qual é a empresa que o aloca nos postos de trabalho para o “estágio”.
Os estagiários técnicos são convidados a vir
Na verdade, são muitos os casos em que são tratados como força de trabalho para compensar a escassez de mão-de-obra, e o desaparecimento deles não tem fim. Segundo a Agência dos Serviços de Imigração, cerca de 7 mil estagiários técnicos desapareceram em 2021, um aumento de 20% em relação ao ano anterior. O governo decidiu criar um painel de especialistas até 2022 para revisar o sistema.
Natsuko Saeki, professora adjunta de estudos internacionais sobre a paz na Universidade Nagoya Gakuin, disse: “As organizações de supervisão e de envio dos estagiários técnicos tendem a concordar com os problemas das empresas e não se colocam na posição dos trabalhadores. Além disso, nem comunicam a existência da organização”.
O indonésio entrevistado confirma o que diz a professora. Sequer sabia o número de telefone da organização que o agenciou para esse navio pesqueiro.
Japão precisa analisar se continuam como estagiários técnicos
A professora pensa que é preciso ter consciência de que o Japão necessita dessa mão-de-obra estrangeira porque não há japoneses suficientes para essas vagas e que eles são convidados a vir.
“Devemos reconhecê-los como trabalhadores em vez de estagiários técnicos. Só assim podem obter os direitos óbvios de todos os trabalhadores, como mudança de emprego, gravidez e parto”, pontuou Takuro Sakanishi, secretário-geral da Associação PHD.
Fonte: Kobe Shimbun