Há inúmeros casos de pais que recusam tratamento médico para seus filhos com base na religião. Dos 55 hospitais do Japão que responderam à pesquisa do Mainichi Shimbun, 18 hospitais, ou cerca de 30%, explicam que vivenciaram a recusa de tratamento médico para crianças nos últimos 10 anos, totalizando pelo menos 48 casos.
O Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar (MHLW) considera a recusa de tratamento médico a crianças como abuso infantil. O problema é angustiante aos médicos, porque salvar vidas é a prioridade máxima, mas também é preciso levar em consideração as crenças religiosas.
De fevereiro a março, o jornal Mainichi realizou uma pesquisa por questionário em 119 hospitais com foco na área de pediatria, e 55 hospitais responderam a enquete. Segundo os hospitais, o motivo da recusa ao tratamento mais comum foi a “transfusão de sangue” em 13 casos.
A religião Testemunhas de Jeová é conhecida por sua doutrina de recusa de transfusões de sangue. Em dezembro de 2010, o ministério emitiu uma notificação exigindo ação das autoridades locais com base no fato de que não permitir que as crianças recebam tratamento médico considerado necessário pelos médicos constitui uma forma de abuso infantil.
O caso vem tomando popularidade no Japão a cada ano. Em fevereiro deste ano, advogados denunciaram membros dos Testemunhas de Jeová por rejeitarem transplante de sangue. Em dezembro do ano passado, as autoridades impuseram novas diretrizes que afirmam claramente que negar cuidados médicos necessários, incluindo transfusões de sangue, constitui abuso infantil.
Entretanto, os Testemunhas de Jeová continuam instruindo seus seguidores a recusar transfusões de sangue para crianças mesmo após as mudanças na constituição, disseram os advogados.
Em matéria publicada nesta sexta (5) pela ANN, um diretor religioso mostrou um documento interno que foi enviado para os membros da religião cujo título era “Como pai, proteja seu filho do mau uso do sangue“. No documento, estava escrito que os pais devem negar transfusões de sangue para proteger seus filhos.
A matéria também mostra o caso de Naoto, nome fictício, 19, que sofria de defeito do septo atrial, uma doença de nascença na qual o paciente tem furos nos átrios cardíacos. Naoto e sua família descobriram a doença quando ele foi internado aos 10 anos. O tratamento ideal exige transfusão sanguínea, e outros métodos acabam elevando o risco de morte, disseram os médicos. Entretanto, os pais, que eram Testemunhas de Jeová, negaram o tratamento. Hoje, Naoto, que já é adulto, fez a cirurgia por conta própria e passa bem, mas, conta suas frustrações por não poder brincar com outras crianças devido à doença, e a educação severa, incluindo punições com chicotes, pelos seus pais.
Atualmente, Naoto e diversas outras pessoas que foram vítimas de casos parecidos vivem uma luta legal contra a religião para impedir que outras crianças passem pela mesma situação.
A matéria é extensa (em japonês), assista abaixo.
Fonte: ANN e Mainichi