Homens descarregam a carga e transportam sacos pesados por cerca de 1Km até o ponto de lançamento (CNN)
Quando ativistas chegam na ilha em um pequeno caminhão e em um carro, uma estrada suja estava bloqueada por uma peça de equipamento de construção.
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Então todos os homens, com idades ente 50 e 70 anos, simplesmente descarregam a carga e transportam sacos pesados por cerca de 1Km até o ponto de lançamento.
Esse é o mais perto que Jeong Gwang-il e seu amigos voluntários podem chegar até a Coreia do Norte. Duas vezes por mês eles vão até esse cais rochoso para enviar presentes a seus vizinhos mais pobres no Norte.
O pequeno grupo aguarda a mudança de maré. Eles juntam suas mãos em oração e então começam a arremessar centenas de garrafas de plástico ao mar.
Cada garrafa de dois litros é um pacote de cuidados improvisado, preenchida com um quilo de arroz cru e uma única nota de dólar, produtos que levariam a média norte-coreana de 40 dias para ganhar, dizem ativistas.
Juntam suas mãos em oração e depois arremessam centenas de garrafas de plástico ao mar (CNN)
A esperança é que o arroz possa alimentar os 41% do país que as Nações Unidas acreditam estar subnutridos.
Dentro das garrafas também há medicamento para matar parasitas – médicos encontraram vermes no estômago de um soldado que atravessou a zona desmilitarizada no ano passado para desertar – e uma memória USB cheia de vídeos com informações do mundo lá fora. Eles travam informações proibidas no país destinadas a “acordar a população norte-coreana”, como coloca Jeong.
O último item é um bilhete que diz “Deus ama você”.
Enquanto a equipe de reportagem da CNN observava a flotilha de garrafas d’àgua sendo levada pela maré em direção à Coreia do Norte, um dos colegas de Jeong, ex-oficial militar norte-coreano chamado Kim Yong-hwa, tem palavras mais fortes para a liderança em Pyongyang.
Cada garrafa é preenchida com um quilo de arroz cru e uma única nota de dólar (CNN)
“Cada uma dessas garrafas de arroz é uma bala contra três gerações da ditadura de Kim”, diz ele, se referindo à dinastia norte-coreana, atualmente liderada por Kim Jong-un.
Tim Peters, missionário americano que morou na Coreia do Sul, usa pequenas sacolas de plástico cheias de sementes.
“É muito importante reconhecer que a Coreia do Norte é verdadeiramente, baseada em relatos das Nações Unidas… uma das grandes áreas de desastres de direitos humanos que temos no mundo de hoje, e incluído nela é a segurança alimentar”, disse ele à CNN.
Contudo, ativistas como Peters, Jeong e Kim Yong-hwa enfrentam um obstáculo em seus esforços: o governo sul-coreano.
Paz na península
Quando Kim Jong-un se encontrou com o presidente Moon Jae-in no final de abril, a ocasião histórica suscitou reações emocionais de muitos sul-coreanos.
Contudo, ativistas como Peters e Jeong Gwang-il tiveram sentimentos confusos sobre as relações calorosas entre Pyongyang e o mundo lá fora, e preocupados que as alegações de graves abusos de direitos humanos estão sendo ignoradas.
A reunião de Moon e Kim terminou com os dois assinando uma declaração que visa reduzir as tensões entre as duas Coreias, países vizinhos que ainda estão tecnicamente em guerra.
O acordo não fez nenhuma menção sobre civis enviando itens à Coreia do Norte, mas em 4 de maio o Ministério de Unificação da Coreia do Sul emitiu uma declaração pedindo a grupos civis que parassem com a ação.
Suspender atos hostis
Jeong disse que as autoridades sul-coreana recentemente entraram em contato com ele pedindo que parasse de enviar pacotes de cuidados engarrafados à Coreia do Norte.
Ele disse que se recusou e enviou outro lote flutuante em direção ao Norte, o do dia 14 de maio.
“A Coreia do Sul está sendo manipulada pelo esquema de Kim Jong-un”, argumenta ele.
Jeong se encontrou pessoalmente com Trump na Casa Branca em fevereiro passado para contar sua história. Contudo, agora, ele está preocupado que o presidente dos EUA poderá ignorar os casos mencionados em seu discurso se a desnuclearização norte-coreana acontecer.
De pé no cais, Jeong e outros ativistas observavam as últimas garrafas sendo levadas pelas águas vagarosamente.
Eles não têm provas de que as garrafas vão chegar até as mãos de cada norte-coreano.
Mas eles afirmam que guardas de fronteira sul-coreanos disseram que viram soldados norte-coreanos e civis recolhendo as garrafas cheias de arroz ao longo da costa.
“Estamos enviando isso sem condições anexas. Estamos enviando isso por amor”, disse Kim Yong-ha, ex-oficial do exército norte-coreano.
É uma mensagem de esperança, diz ele. Uma mensagem em uma garrafa.
Fonte e imagem: CNN