Para a psicologia, as cinco principais feridas emocionais são rejeição, abandono, humilhação, traição e injustiça. Mas hoje, falando exclusivamente da traição, acredito que esta seja a ferida mais complexa pois ela sozinha pode englobar as outras quarto citadas.
E toda vez que um paciente traz a questão da traição nas sessões, vem junto o dilema de perdoar ou não e mais… “se eu perdoar, como prossigo com esse relacionamento se a confiança foi totalmente abalada”?
Dependendo de como a pessoa digeriu a traição, que normalmente é traumática, ela desenvolve o medo ou a insegurança de se envolver novamente com outra pessoa; pode começar a se convencer de que ninguém é fiel e que, com certeza, será traído ou traída de novo.
Perdoar ou não quem te traiu vai depender muito do tipo de relação que vocês mantém, da dinâmica do casal, do quanto você idealiza a pessoa, o que ela representa pra você… E depende até do grau de dependência emocional e financeira que você estabeleceu e se permitiu permanecer até então.
Por isso que eu costumo dizer que o que faz você manter uma relação mesmo machucada ou machucado tem muito mais a ver com as bagagens inconscientes que cada um trouxe na sua mochila quando se conheceram, do que a relação em si.
Se o que prende você ao relacionamento fosse só consciente, só o sofrimento intenso já seria suficiente para você ir embora, mas não!!! Tem algo aí dentro de você que te faz querer ficar, mesmo sem querer ficar!!!
Perdoar ou não?
Você se faz essa pergunta e nunca obtém a resposta. E aí, a decisão de continuar, por exemplo, passa a ser um tiro no escuro. Você tenta se convencer de que o outro não trairá mais e resolve perdoar. O interessante é que nessa dinâmica de pensamento, é você quem se convence a ficar. Em muitos casos, o outro nem está fazendo muita questão, mas algo em você não te permite enxergar claramente e você vai ficando.
Durante as sessões, o paciente, com a minha ajuda técnica, vai separando o que é seu e o que é do outro; vai descobrindo porque perdoa mesmo sem querer perdoar; o que é que o prende nessa relação, etc.
A psicoterapia também pode ajudar a quem foi traído a não usar a máscara de controlador que é quando o sujeito passa a adquirir um comportamento tão inseguro que, para garantir que será respeitado, passa a querer estar no controle de tudo, passa a ser menos tolerante com as fraquezas do outro e tenta prever o futuro tentando se resguardar de uma futura possível traição.
O futuro da relação
Agora, o mais importante que eu quero deixar como reflexão é que, a partir do momento em que uma relação é trincada por uma traição, nunca mais será a mesma. Pelo menos, para um dos dois ela muda completamente.
E isso é muito importante e dificílimo (por isso recomendo a terapia) porque o casal, se decide ficar junto, terá que reconfigurar a relação que já não é mais a mesma. É como se fosse um outro casamento, onde aquela princesa ou príncipe encantado cai do pedestal e o outro deverá conviver mais com a pessoa real, seus defeitos, passível de erros do que com a pessoa idealizada.
Normalmente, diante de uma traição, os níveis de romantismo, confiança e desejo sexual são totalmente comprometidos e essas reviravoltas dentro do relacionamento conjugal, dia após dia, é que vão determinando se a parceria amorosa continuará ou não, fazendo com que o tempo seja um fator determinante para as respostas que o casal busca.
Além disso, se o sujeito traído usar seu perdão como moeda de troca ou se comportar de outras maneiras vingativas, tudo piorará, não só em termos conjugais, mas principalmente, em termos de saúde mental, podendo até interferir na dos filhos.
Portanto, não basta só querer perdoar. Ambos têm que avaliar em seu cotidiano como esse “novo casamento” se dará. Quando se fala em sentimentos e traumas, não há certo ou errado. Tudo depende de quem fere e é ferido.
Se você está passando por dificuldades emocionais, uma seção de terapia irá proporcionar um espaço seguro para explorar questões pessoais, de forma sigilosa e saudável. Entre em contato com a autora para obter informações.
Psicóloga Flavia Shiroma de Paula
Se você deseja iniciar um processo de psicoterapia, não hesite em entrar em contato. Cuide sempre as sua saúde mental.