Com aparente sucesso, médicos na Tailândia e Japão usaram medicamentos para HIV no tratamento de pacientes infectados com o novo coronavírus.
Entretanto por que eles pensam em testar medicamentos feitos para combater um patógeno em uma doença que aparentemente é bem diferente?
O HIV, o vírus que causa a AIDS, toma controle de glóbulos brancos para se replicar e eventualmente prejudica o sistema imune do hospedeiro.
Já visto como incurável, o HIV pode ser controlado por terapia antirretroviral – combinações de medicamentos antivirais que interferem com a habilidade do vírus de se reproduzir, permitindo aos pacientes terem vidas normais.
Esses incluem o lopinavir e o ritonavir, os medicamentos usados em tratamentos experimentais do coronavírus. Ambos pertencem a uma classe de medicamentos conhecidos como inibidores da protease.
Médicos tailandeses administraram a combinação de lopinavir e ritonavir juntamente com o oseltamivir, medicamento para influenza, a uma paciente chinesa na faixa dos 70 anos, de acordo com um relatório divulgado neste mês pelo Ministério de Saúde Pública da Tailândia.
A mulher não apresentou melhora em sua condição por 10 dias após seu teste para o vírus dar positivo, mas ela se recuperou dentro de 48 horas após receber o tratamento, de acordo com o ministério.
Quando o HIV se reproduz, ele força as células hospedeiras a criarem redes de proteínas que se transformam em material para novos vírus. Uma enzima chamada protease é usada para reduzir essas redes ao tamanho apropriado.
Inibidores de protease bloqueiam essa enzima, que “evita que o vírus se replique”, disse Shuzo Matsushita, professor na Universidade de Kumamoto no Japão e ex-chefe da Sociedade Japonesa para Pesquisa da AIDS.
O novo coronavírus se reproduz através de um mecanismo similar, de acordo com Junichiro Inoue, professor de biologia celular na Universidade de Tóquio. Como o HIV, o vírus invade as células e as força a produzir proteínas que então são reduzidas em partes menores usando a protease.
Isso levou muitos pesquisadores a se perguntarem se ela pode estar vulnerável a inibidores de protease.
O Centro Nacional do Japão para Saúde e Medicina Global disse na semana passada que havia tratado uma paciente de Wuhan, onde acredita-se que o vírus tenha se originado, com lopinavir e ritonavir.
A paciente teve problemas respiratórios algumas vezes, mas sua condição estabilizou após o tratamento, e a febre baixou cinco dias após ela ter sido admitida na instalação.
Essa amostra limitada de casos não pode concluir a questão por sua conta. Especialistas dizem que mais testes são necessários para dizer de antirretrovirais realmente ajudam os pacientes infectados por coronavírus a se recuperarem.
Makoto Ujike da Nippon Veterinary and Life Science University anteriormente testou medicamentos anti-HIV contra a síndrome respiratória aguda grave (SARS), que também foi causada por um coronavírus.
Citando falta de experimentos clínicos para estabilizar claramente sua eficácia naquele caso, Ujike disse que esses medicamentos podem ser apenas de uso “limitado” contra o novo vírus também.
Separadamente, Inoue e outros pesquisadores descobriram que o nafamostato – um inibidor de protease usado para tratar pacientes – bloqueou o coronavírus responsável pela síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS), de infectar células respiratórias humanas in vitro.
Inoue manifestou maior otimismo em relação à habilidade de inibidores de protease para combater o novo vírus.
Pesquisadores chineses “reportaram que estão trabalhando no nível celular”, disse ele, acrescentando que ele espera que os estudos “sejam um trampolim para desenvolvimento de medicamento”.
Fonte: Asia Nikkei